01/09/09

A magia das previsões

Uma das crenças mais arreigadas do senso comum é o da bondade das previsões, então se suspeitarmos que elas se fundam em dados estatísticos... Desde que a Física se tornou uma Física matemática, com Galileu e Newton, que o homem aprendeu a prever, com alguma fiabilidade, certos acontecimentos físicos. Isso, por exemplo, permite colocar uma avião no ar, electricidade em casa, etc., etc. Entusiasmados com o sucesso da Física, os homens ocidentais deitaram-se a fazer previsões sobre tudo, nomeadamente sobre os acontecimentos sociais. Por exemplo, os economistas têm como principal fonte de prazer, eu diria de um prazer quase sexual, fazer previsões que vão alterando. Prevêem tudo, desde a taxa de inflação atá ao PIB. Na verdade, acabaram, por exemplo, por não prever a crise financeira que, segundo parece, estava diante dos olhos de toda a gente. Mas a prática da adivinhação não se resume à economia. Agora é no campo da Saúde, onde não há dia em que não sejamos brindados com previsões sobre o surto epidémico de uma doença qualquer. Agora é a Gripe A. A Direcção Geral de Saúde estima que 11% dos portuguesas irão ser atingidos pelo vírus nas estações frias. Aguardamos, com natural ansiedade, as próximas revisões, em alta ou em baixa, para nos tranquilizarmos e sabermos que o nosso mundo, enquadrado na sabedoria da previsão, ainda continua o mesmo. Para que serve a constante divulgação deste tipo de dados? O que pode fazer o cidadão comum com esta extraordinária informação? Nada. Mas por que estamos sempre a ser bombardeados por previsões ditas científicas? Pelo mesmo motivo que os homens de outrora iam consultar o oráculo de Delfos, uma bola de cristal, o voo das aves ou as entranhas de um animal sacrificado: construir um esquema de crenças que permitam dominar o futuro. Este, todavia, mantém-se inalteravelmente obscuro e nunca esclarece a face com que se vai apresentar diante dos atónitos seres humanos. Felizmente.

1 comentário:

zemanel disse...

11% e não 10% porquê?
O facto de ser onze dá a aparência (desejada) do estudo ser rigoroso e científico. Ilusionismo estatístico puro. E ingénuo.