16/03/09

A vaidade de parecer civilizado


Há um mistério que não consigo explicar. Por que motivo a legislação que rege o mundo escolar parece adaptada a um país que não o nosso. Hoje, uma adolescente de 13 anos, agrediu a soco e a pontapé uma professora. Esta teve de receber tratamento hospitalar. O que devia espantar os portugueses, se eles estivessem minimamente interessados no futuro do país, seriam as seguintes questões: como é que passou pela cabeça da "criança" poder agredir uma professora? Que sistema educativo é este que permite que os alunos tenham iniciativa para fazer coisas destas? A política educativa é de tal maneira permissiva para com as diabruras da criançada, que nos faz pensar que estamos num daqueles países do norte da Europa, onde a consciência moral e cívica é de tal forma forte que não há ninguém que pense prejudicar os colegas, fazer batota nos estudos ou faltar ao respeito aos adultos.

Em Portugal, no campo da educação, a legislação é uma mentira social. Os alunos que nós temos não são nórdicos. São portugueses. Não gostam de trabalhar, não têm remorsos se fazem batota, pelo contrário, não têm, muitos e muitos deles, qualquer noção de respeito pelos outros. A escola na Finlândia, na Suécia, na Dinamarca, etc. pode estar aberta à comunidade, pois a escola é uma emanação da comunidade e dos valores desta. Em Portugal, a abertura da escola à comunidade é um erro trágico. Em Portugal os valores fundamentais da escola são estranhos à comunidade. Quando a escola se abre, entram para dentro da escola todos aqueles valores negativos que uma educação saudável deveria erradicar.

A legislação e os sistemas sociais dos países devem estar de acordo com os povos que servem, e não ser uma aplicação mecânica de coisas interessantes que se fazem lá fora, noutras circunstâncias e entre outros povos. Mas como explicar isto aos políticos que nos governam? Como fazer frente àquela triste vaidade de quererem parecer civilizados porque fazem leis aparentemente civilizadas, mas que apenas contribuem para a degradação cívica de um povo?

4 comentários:

maria correia disse...

Bom, faz bem em referir os nórdicos, pois em França e na Alemanha as coisas andam bem piores do que aqui no jardim à beira-mar. Há escolas em França onde a polícia faz guarda constantemente, à paisana. Onde grande parte dos alunos entra no estabelecimento de ensino acompanhado de navalha de ponta e mola...E o que andará na cabeça dos alunos alemães--e já são dois casos em poucos anos, para desatar aos tiros e matar colegas e professores? E nos Estados Unidos, onde essa situação horrível já se tornou um lugar comum, infelizmente? Embora crítica em relação ao actual sistema educativo, há que reconhecer que nem tudo vai assim tão mal no «reino da Dinamarca». O problema não são os portugueses, mas uma cultura instalada de desrespeito ao professor que atravessa vários países europeus e ocidentais.

Anónimo disse...

Estou de acordo com a Maria Correia. Acrescento apenas uma coisa. A cultura de desrespeito no mundo ocidental não afecta apenas a escola, mas todas as instituições de um modo geral. Estamos a começar a pisar terrenos perigosos. Alguns dos alicerces do mundo ocidental estão ameaçados. É preciso ter consciência disso.

Anónimo disse...

Entendo tudo isto como uma profunda crise de valores! Há uns tempos quisemos alterá-los, mas, ainda nao fomos capazes de os substituir e o vazio não é benéfico: Ter modelos ´
e essencial ao crescimento: se não forem dignos de admiraçao e de imitaçao que o sejam de recusa!Não ter nada, nem valores nem modelos nem limites, gera insegurança que se traduz muitas vezes por atitudes violentas contra quem mais tempo passa com eles: nós os profs!

Anónimo disse...

PARABÉNS a todos os que idolatraram o "Bom Selvagem" agora sintam-lhe o cheiro, a verve e até o punho !!!
Esta dicotomia entre Natura e Cultura que tem sido levada a extremos por alguns supostos pensantes há-de revelar uma geração tão Natura que embrutecerá gorda estúpida estado-dependente e incapaz!!!
É tempo de acordar, são os nossos filhos!!!
A regra e o formalismo deve voltar, a formalidade de um ritual confere-lhe diferenciação dos momentos comuns!!!
No final dos anos 80 transitei de um colégio para um Liceu, lembro.me de ter como absolutamente mecanizado o gesto de me levantar e silenciar quando entrava o professor, em poucos meses forcei.me a não o fazer, a sensação de Allien aos 16 não ajuda. Mas atenção o respeito necessita alimento, Mestres!!!