02/03/09

Guiné-Bissau e o som da música da História

Bandeira da Guiné-Bissau

Quando comecei a interessar-me por política, por volta do ano de 1973, a questão colonial era um problema nuclear em Portugal. Formado na escola oposicionista do Cine-Clube de Torres Novas, o meu idealismo juvenil logo se deixou arrebatar pela simpatia para com os movimentos libertadores. Entre eles, brilhava a grande altura, na época, o PAIGC. Quando Portugal reconheceu as independências das suas ex-colónias, rejubilei (como muitos outros e ao contrário também de muitos outros) com o acontecimento: o sentido da História cumpria-se, os povos libertavam-se da opressão colonial. E nós cantávamos ao som da Guiné-Bissau livre e independente.

Nem vale a pena falar do que foram os anos posteriores às independências das colónias. A guerra contra Portugal transformou-se, nas principais colónias, em guerra civil (umas mais quentes, outras mais frias e disfarçadas). Os acontecimentos de hoje com os assassinatos de Nino Vieira, o presidente da Guiné-Bissau, e do general Tagme Na Waie, chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas mostram, mais uma vez, como o idealismo que nos coube em sorte na juventude pouco sabia da realidade do mundo, dos homens e da política.

Não é que eu ache que Portugal deveria ter continuado o esforço de guerra e tentado evitar a descolonização. Continuo a julgar que descolonizar era a única solução possível. O que não encontro, agora que estou a ficar velho, é motivo para aquele júbilo que acometeu tantos de nós. Se eu, na época, tivesse já sido instruído pela leitura de Hegel, talvez tivesse contido a alegria, pois saberia que o motor da História é sempre o negativo, a morte, a violência. Perante este cortejo de horrores, pode haver tudo menos vontade de rejubilar. Com o tempo, se não somos uns refinados filhos da puta (o leitor que me perdoe o excesso de linguagem), aprendemos que nunca se deve cantar e dançar ao som da música da História. É sempre uma marcha fúnebre.

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