06/03/09

O direito de enterrar e honrar os mortos


Vale a pena ler o trabalho do Público sobre Khavaran, um lugar perto de Teerão, para onde foram despejados os cadáveres daqueles que o regime islâmico iraniano foi executando entre 1980 e 1988. Um lugar "onde as flores e as lágrimas estão proibidas". O horror descrito pelos entrevistados é inominável, mas as palavras da escritora Monireh Baradran deixaram-me absolutamente perplexo: "O direito de enterrar os mortos e de os honrar é, na minha opinião, mais importante do que o direito de cidadania." Não é apenas o sintoma de um desespero perante a ignomínia que nos toca, mas, mais do que todo o resto, é ouvir, em 2009, a voz de Antígona a exigir a sepultura e honras fúnebres para o seu irmão, como se a tragédia de Sófocles ainda fosse pregnante, como se o dever para com os mortos se tivesse de sobrepor aos deveres para com os vivos. Aqueles que acham que o Islão pode ser um útil "compagnon de route" na luta contra o Ocidente capitalista, deveriam, se não forem completamente pervertidos, meditar nas palavras destes iranianos a que o Público dá voz.

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