03/03/09

Desígnio Inteligente


O Zé Ricardo escreve aqui sobre o encontro a decorrer no Vaticano entre teólogos e cientistas a propósito dos 200 anos do nascimento Darwin e da teoria do "desígnio inteligente", uma teoria pseudo-científica que pretende ver na evolução das espécies um sinal do plano criador divino. Ele suspeita que a discussão está inquinada: «Digam o que disserem os eminentes cientistas, os teólogos irão sempre encontrar sinais de Deus na evolução das espécies pelo simples facto de desejarem aí ver sinais de Deus, visto que, para eles, o mundo não faz sentido sem sinais de Deus.» Mas se ele ler aqui descobrirá que os teólogos católicos mais depressa se acordarão com os cientistas do que com os defensores da teoria do "desígnio inteligente", de origem protestante e americana. Não quero dizer que não haja um ou outro católico que não gostasse de fundir ciência e crença religiosa, mas vejo com muita dificuldade o Vaticano cair nessa armadilha. É preciso não esquecer que a Igreja Católica possui muitas e fortíssimas universidades, produz muitos cientistas e que a tradição filosófica e o discurso racional são estruturantes do catolicismo. Como é que um intelectual notável como Ratzinger iria permitir que a fé e a crença em Deus dependessem de uma teoria que tem pretensões de ser científica? No Vaticano lê-se e estuda-se muito. A Igreja Católica dificilmente abandonará a diferenciação dos dois planos: o que é matéria de fé não é objecto de investigação empírica; a ciência não investiga o sobrenatural. Eu diria que este encontro talvez seja mais um sinal de conflito teológico entre duas versões do cristianismo do que uma tentativa da Igreja Católica cavalgar o triunfo de Darwin. Ela sabe que as vitórias humanas são sempre muito temporárias.

1 comentário:

José Carlos Costa Reis e Silva disse...

Dei com o teu blog ao desfiar a partir daqui:

http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1433054&seccao=Anselmo%20Borges&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco