Da origem do celibato dos padres
De facto, não foram reis que ensinaram, a princípio, a religião cristã, mas simples particulares que, por largo tempo, contra a vontade dos que detinham o poder e de quem eram súbditos, se reuniam habitualmente em Igrejas privadas, instituíam cerimónias sagradas, administravam, organizavam e decidiam tudo sozinhos, sem terem minimamente em conta o Estado. Quando, porém, volvidos muitos anos, a religião começou a introduzir-se no Estado, os eclesiásticos tiveram de a ensinar, tal como a haviam definido, aos próprios imperadores, o que lhes valeu serem reconhecidos como seus doutores e intérpretes e bem assim como pastores da Igreja e vigários de Deus. Além disso, para que mais tarde os reis cristãos não lhes pudessem retirar essa autoridade, os eclesiásticos acautelaram-se optimamente, proibindo o casamento aos principais ministros da Igreja e ao supremo intérprete da religião. A isto acresce ainda o terem os dogmas da religião aumentado em tão grande número e confundirem-se de tal maneira com a filosofia que o seu supremo intérprete tinha de ser supremo filósofo e teólogo e atender a uma infinidade de especulações inúteis, o que só é possível a particulares com bastante tempo livre. [Baruch Espinosa (2004) Tratado Teológico-Político, tradução de Diogo Pires Aurélio, pp. 380]
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