Liberdade e obediência
Para compreender o verdadeiro valor da obediência espiritual, devemos distinguir cuidadosamente a vontade própria e a liberdade real. Esta distinção tem um grande importância, porque somos chamados a ser livres na obediência e não a sacrificar toda a liberdade para responder, como máquinas, à autoridade.
A obediência a Deus é a forma mais alta da liberdade. A sujeição à tirania do automatismo, que este venha dos caprichos da vontade própria ou das ordens cegas do despotismo, das convenções, da rotina ou da inércia, faz-nos perder toda a liberdade.
Uma das ilusões mais comuns consiste consiste em crer que ao opor os meus caprichos às ordens da autoridade, eu manifesto a minha liberdade, eu ajo «espontaneamente». Ora esta maneira de agor não tem a ver com a espontaneidade verdadeira e não conduz de modo nenhum à verdadeira liberdade, mas antes à insubordinação. [Thomas Merton (1963). Semences de Contemplation. Paris: Ed. du Seuil, pp. 148]
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Esta citação de Thomas Merton, monge trapista, permite perceber por que motivo, no conflito entre professores e Ministério da Educação, a Igreja Católica portuguesa esteve genericamente do lado dos professores. A Igreja tem uma longa experiência sobre a relação entre a autoridade, a liberdade e a obediência, e sabe perfeitamente, pelo menos nos seus círculos mais esclarecidos, que a autoridade e a obediência, mesmo fora dos mosteiros contemplativos, são o fundamento mais sólido da liberdade, e, por isso mesmo, da educação das novas gerações. É deste cristianismo que a Europa precisa. Precisa que ele penetre novamente no tecido social. Isto não significa, porém, que aquilo que é necessário acontecer aconteça, de facto. Mas, caso não aconteça, a evolução da Europa será problemática. Como é que a liberdade poderá subsistir numa cultura que cortou a relação com uma das suas fontes mais originárias?
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