Afinal, não haverá pré-socráticos
Completam-se quatro anos de governação de José Sócrates. Republicamos o artigos que, na altura da tomada de posse, escrevemos no Jornal Torrejano. É um exercício curioso.
Haverá pré-socráticos?
Foi apresentado o governo de Sócrates e, como era de esperar, rapidamente se percebeu que não houve nenhuma maioria de esquerda nas últimas eleições. O PS ganhou ao centro e formou um governo de centro-esquerda. Quem estava à espera de um hipotético carnaval baseado na demagogia folclórica e na irresponsabilidade reivindicativa sofreu uma desilusão. O novo primeiro-ministro teve, após a vitória eleitoral, duas novas vitórias: deu credibilidade à formação do seu governo e formou-o com uma forte imagem de coesão e reformismo.
Foi apresentado o governo de Sócrates e, como era de esperar, rapidamente se percebeu que não houve nenhuma maioria de esquerda nas últimas eleições. O PS ganhou ao centro e formou um governo de centro-esquerda. Quem estava à espera de um hipotético carnaval baseado na demagogia folclórica e na irresponsabilidade reivindicativa sofreu uma desilusão. O novo primeiro-ministro teve, após a vitória eleitoral, duas novas vitórias: deu credibilidade à formação do seu governo e formou-o com uma forte imagem de coesão e reformismo.
Dos ministros escolhidos, ressalta uma mensagem de responsabilidade e de interesse em enfrentar as dificuldades do país. Boas notícias são Campos e Cunha nas Finanças e Manuel Pinho na Economia. Dois homens que vêm de fora do PS com uma imagem de grande rigor. O retorno de Mariano Gago à Ciência e Tecnologia e de Correia de Campos à Saúde são também excelentes notícias. Freitas do Amaral carimba a matriz centrista do governo. Na Educação, há, pelo menos, uma boa notícia: nem Ana Benavente, nem Santos Silva vão tutelar a pasta. Esperemos que a nova ministra seja insensível à demagogia e irresponsabilidade daqueles que estão empenhados em prosseguir o caminho de destruição do sistema educativo português.
Aquilo que, todavia, espera o novo governo parece ser mais um trabalho para Hércules do que para Sócrates. Equilibrar as Finanças, endireitar a Segurança Social, reformar a Saúde, a Administração Pública e a Justiça, desenvolver e modernizar a Economia, pôr ordem na Educação. Em todas estas áreas movem-se poderosos interesses e existem fortes obstáculos. Muitas das medidas a tomar terão custos sociais e serão contestadas, no Parlamento, por todas as oposições e na rua pelo PCP e pelo BE. O caminho de Sócrates, como o do Céu, é estreito, mesmo muito estreito. Pede-se-lhe que faça aquilo que nenhum primeiro-ministro, antes dele, fez: cortar nos privilégios instalados, fomentar o reformismo inovador, equilibrar e dar coesão à comunidade nacional. Que seja ao mesmo tempo liberal na economia e social-democrata na concepção da comunidade política.
Ora, se fugir das reformas, como o fizeram Cavaco e Guterres, perderá as próximas eleições sem honra nem glória e deixará o país num pântano ainda maior do que o actual. Se tiver coragem, se enfrentar com decisão os problemas, muito provavelmente perderá na mesma as próximas eleições, mas perderá com honra e deixará um país com futuro aberto à sua frente. E poderá acontecer que os eleitores percebam o que fez.
A Sócrates pede-se-lhe uma inteligência de Aristóteles e uma força de Hércules. Se as tiver, então um dia, quando se estudar a vida política da III República, falar-se-á em Sócrates e em pré-socráticos. Caso contrário, o socratismo não terá sido mais do que um sofístico equívoco.
---------------
Mais logo, talvez se faça um balanço e leitura destas expectativas. O tempo não deixa de ser um grande escultor: ensinou-nos que, afinal, este Sócrates não passava de um mero sofista.
Sem comentários:
Enviar um comentário