Não fora isso, e não seriam carecas nem teriam gota
O maior médico de sempre – e fundador da medicina como ciência — dizia que as mulheres estavam ao abrigo da queda do cabelo e de dores nos pés: ora, hoje vemo-las sem cabelo e com gota nos pés! Não que a natureza das mulheres sofresse alguma mutação. Só que foi ultrapassada, e, como elas se igualaram aos homens em matéria de excessos, passaram a sofrer dos mesmos distúrbios físicos que os homens. Não fazem menores noitadas nem bebem menos do que eles; no consumo óleo e de vinho rivalizam plenamente com os homens. Tal como eles, “restituem” pela boca as iguarias que o estômago rejeita e aliviam-se, vomitando, do vinho consumido; tal como eles, chupam bocados de gelo para aliviar a azia. Em matéria de sensualidade também em nada cedem aos homens: elas, que nasceram para ser passivas (possam os deuses e deusas castigá-las como merecem!), tão longe se aventuraram na via da licenciosidade que agora, com os homens, são elas quem desempenha o papel activo! Porquê admirar-nos então que Hipócrates, a glória da medicina, o maior conhecedor da natureza humana, seja assim apanhado a mentir, dada a presente abundância de mulheres calvas e atacadas da gota?! Elas perderam as regalias próprias do seu sexo e, renunciando à feminilidade, viram-se condenadas às moléstias dos homens. [Séneca, Cartas a Lucílio, XCV]
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