30/04/08
Louis Armstrong & Ella Fitzgerald - Summertime
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Contra a Sérvia na UE
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A gravidade dos chumbos
Mas a discussão está pervertida, pois o problema principal está na seguinte questão: por que razão há tanta repetência em Portugal? Esta discussão deveria ser séria. Mas, devido à acção do actual governo, está toda ela inquinada. Há múltiplas variáveis. Por exemplo, será que muitos alunos têm maturidade suficiente para entrar na escolaridade aos 6 anos? Na Finlândia só entram aos sete. Será que existe uma diversificação curricular que permita encaminhar, desde muito cedo, alunos com poucas apetências pelo ensino geral para uma formação mais adequada? Será que os programas estão adequados? Será que a estrutura curricular é adequada? Qual a qualidade da avaliação que é feita pelos professores? Será a adequada? Será que a gestão dos recursos humanos, dirigida ao milímetro pelo ME, é a mais correcta? Será que é possível adequar o ensino, pelo menos no ensino básico, a turmas tão heterogéneas? Que impacto tem a organização escolar no rendimento dos alunos? Que impacto tem a cultura, entendida na sua relação com o esforço e a exigência, dos alunos na sua prestação escolar? Que impacto tem a cultura da sociedade e das famílias no desempenho escolar das novas gerações?
Como se vê, o problema é muito complexo. Em vez de se olhar para ele de frente, lança-se uma campanha pública contra os chumbos e abre-se o caminho para que amanhã qualquer aluno passe sem saber ler nem escrever. Dirão os defensores do ministério que não é isso que se pretende. Direi, porém, que qualquer medida tem sempre os seus efeitos colaterais. E, como muito bem sabemos pela experiência da guerra em directo na tv, esses efeitos colaterais são devastadores. Os chumbos têm gravidade, pesam que se fartam, mas mais grave é fingir que não há nada para compreender no fenómeno, que é uma questão de voluntarismo político e de pressão sobre os professores.
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As Ferreiras e a regionalização
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29/04/08
Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Trinta e cinco
35 - Gustav Klimt - Desenho
Trinta e cinco
Se o torso
pelo carvão
desenhado
assim se torce,
é porque a alma
já nua
se entrega
a quem logo
a force.
Jorge Carreira Maia, Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt, 2008
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Amália Rodrigues: Povo Que Lavas no Rio
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Beautiful Century
Charles Courtney Curran, The Goldfish
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Insegurança e desconforto
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O empobrecimento do país do betão
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28/04/08
Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Trinta e quatro
34 - Gustav Klimt - Desenho
Trinta e quatro
Em pose
tão displicente
deixas a luz
cobrir-te os seios,
enquanto a mão,
sem trégua,
dá-te coragem
no sítio
onde nascem
todos os receios.
Jorge Carreira Maia, Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt, 2008
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Astrakan Café - Anouar brahem
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Escravatura, que disparate…
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Depois seguia-se um número de telefone. Decidi copiar o texto antes de apagar definitivamente aquele lixo.
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27/04/08
Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Trinta e três
e depois protejo com ela os olhos do excesso de luz,
o sol sempre o traz. É assim, desse jeito tão simples,
que aprendi a olhar, como se aprende a andar,
sem saber o como e o porquê. E se te olhei
na fundura dos teus olhos foi para ver lagos e igrejas
e casas desvanecidas na sombra que era a tua.
Quando te perguntei se poderíamos ver o silêncio,
talvez escutar as cores, mostraste-me a água parada
do lago e os teus olhos subiram para a torre
e eu fiquei a olhar a tua madeixa a ondular ao vento
ou a pensar-te no ruído das grandes avenidas.
Tens uns olhos abertos como as mulheres perdidas
nas metrópoles de pedra e caminhas sem memória,
como se o medo não te tocasse e tudo fosse apenas uma página
onde a vida distraída escreve algumas linhas brancas e
irreparáveis. Não sei se tens um destino ou
se as tuas mãos me pertencem agora que as prendo entre
as minhas, sei que caminhamos devagar, ao ritmo
ondulado das águas, e por vezes paras,
se julgas ver uma sereia ou um tritão atónitos
na imensidade do lago. Quando na torre repicaram
os sinos, senti a tua mão cravada na minha
e uma leve tremura a percorrer-te o corpo. É um anjo,
disseste como se falasses para ti e, no sorriso
que se arvorou em teus lábios, havia mais do que um
corpo pode conter. Quando o momento passou
e ao longe se ouviu um restolhar de asas pelo chão,
ergueste as pálpebras e o fundo do universo ruiu
na sombra que te crescia no centro da alma. Um desejo
tomou conta da minha mudez e tudo em redor secou,
como se um Verão de terra ardente descesse sobre as
casas que contigo vejo e tomasse conta de mim,
ao entrares pelo abismo incerto dos meus olhos.
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O retorno da fome
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Sócrates em família
Não é difícil perceber por que motivo tem o PSD tanta dificuldade em arranjar um líder. Mas ele, como muito bem viu WEHAVEKAOSINTHEGARDEN, lá está feliz e sorridente, bem no centro da família. Não destoa.
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Dois hinos para a futura candidatura de Jardim ao PSD
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Jardim entre a Frente Popular e o Jacobinismo
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Novos caminhos para o Zimbabué?
Curiosidade histórica: o Zimbabué tem uma ligação importantíssima à história de Portugal. Foi o pretexto do Ultimato britânico de 1890. Os ingleses pretendiam a retirada das tropas portuguesas no território, território integrado no chamado mapa cor-de-rosa (conferia a posse por parte de Portugal dos territórios que hoje constituem a Zâmbia, o Malawi e o Zimbabué) apresentado por Portugal na Conferência de Berlim (1884/5) e nunca reconhecido pelos ingleses. O Ultimato vai determinar a política portuguesa durante dezenas de anos. O republicanismo recrudesce desde então e conduz ao fim da monarquia em 1910. Também não deverá ser despicienda a contribuição do Ultimato na formação da perspectiva política de Salazar relativa ao problema colonial.
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26/04/08
Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Trinta e dois
do centro da floresta, talvez dos campos tão verdes
que parecem suspensos sobre as casas. Que histórias
terás para me contar – palavras ferozes a vir
em teus lábios recordar-me o terror branco da infância?
Na mudez que de mim se apossou, brilha a voz
que temo escutar quando a tua boca se abre
e de lá vêm palavras, negras palavras feitas de sílabas
de azeviche coladas a pez, palavras em que o sentido
se desfaz mal são pronunciadas e a poeira
delas toma conta e as arrasta para um universo
de galáxias informes.
Se as águas estão paradas e se o bulício dos homens
se calou, foi porque falaste e a escuridão desceu,
tapou os céus e cobriu as nuvens com um veludo tão
negro que tudo se descoloriu. Os barcos abandonaram
o porto e nos campos não há homens ou animais.
Mesmo os deuses luminosos se recolheram, apenas
um ruído de trovoada se escuta ao longe,
enquanto os olhos se abrem para o espanto
das aves de rapina, o céu cruzam como se
fossem bombardeiros em missão de reconhecimento,
talvez anjos tomados pelo orgulho, do bem
se afastam cansados de tanta luz.
Se ainda te toco com as minhas mãos,
a pele, aquela que te cobre o ser, esfarela-se
e caiem pequenas nuvens de areia pelo chão.
Não entrarás naquelas casas, todas as portas
se fecharam ao teu olhar e se das janelas
ainda há quem espreite, não tarda que as portadas
se cerrem como se uma noite eterna viesse
e os simples moradores adormecessem no terror
dos ladrões. Sento-me na luz da tua sombra
e enfrento o pavor que se insinua no estômago
ao escutar o zumbido que dança nesses lábios,
um dia os toquei, e se espalha pelo horizonte,
a roubar o futuro a quem, no presente de cinza
em que vive, perdeu a derradeira linha do passado.
Desenho as últimas letras e nas folhas de cada árvore
espero a vinda não de um deus ou da esperança,
apenas dos buracos negros, a volátil matéria para si atraem:
entro ali e tudo se dissolve na ausência de luz
que é a vida nesta terra de florestas suspensas
e planícies verdes e suaves, amadurecidas
por um lago onde te escondes com a insídia
das tuas palavras, a morte impenitente me trazem.
Postado por Jorge Carreira Maia à(s) 22:16 0 comentários
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Alemães referendários e insurrectos
Como já disse várias vezes, não sou particularmente adepto do referendo, exceptuando em questões de soberania. O que me interessa, porém, nesta notícia é o sentido que se manifesta através desta insurreição referendária aliada ao afastamento da vida política tradicional.
O que se torna evidente é o crescente sentimento de não representação que os cidadãos dão mostras. As elites políticas têm usado os cidadãos para se legitimar, mas mal chegam ao poder a sua aliança preferencial é com a “comunidade empresarial”. Esta aliança foi de tal maneira forte em todo o Ocidente que conduziu a que os governos ocidentais traíssem, é esse o nome apesar do pathos, os seus eleitores e os vendessem no mercado da globalização.
O pacto social-democrata, que equilibrou socialmente a Europa durante decénios, foi substituído por uma política claramente desfavorável às classes médias e às classes populares. Os próprios partidos socialistas, trabalhistas e social-democratas abandonaram os seus eleitores em troco do paraíso da globalização, da retórica da modernização e de um reformismo de sentido invertido (reformar passou a ser diminuir direitos sociais e aumentar as oportunidades dos mais fortes). Agora os alemães estão a descobrir um caminho de retorno à acção política e à democracia directa.
Quem destrói a democracia representativa ao torná-la uma mentira arrisca-se a levar em cima com uma democracia directa e popular. Dito de outra maneira: quem semeia ventos colhe tempestades. Talvez as revoluções sejam há muito anacrónicas como defendia hoje Pulido Valente no Público. Mas as revoltas e as convulsões essas são intemporais.
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A venda de ilusões
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Insegurança e crença nas instituições
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25/04/08
Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Trinta e um
31 - Gustav Klimt - Desenho
Trinta e um
As pernas que se abrem
e o rosto esquecido,
quase do corpo
apartado,
fazem-me cismar
no instante em que
o dedo se retira
nu e cansado.
Jorge Carreira Maia, Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt, 2008
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Queixa das almas jovens censuradas
Este é o José Mário Branco de que gosto. Há um outro...
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Bourvil - La ballade irlandaise (1959)
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As impressões do Presidente
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João Carlos Espada e Platão
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24/04/08
Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Trinta
num gesto
fútil e
requebrado
e nesse vestido
imagino-te
o corpo leve
e já desfolhado.
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25 de Abril - José Afonso - Grândola; Hino do MFA - Paulo de Carvalho - E depois do adeus
A tradição da liberdade em Portugal está ligada a este momento. Por muito que os caminhos, posteriormente, se tenham desviado, esta primeira hora continha um potencial enorme de liberdade que, ao longo destes anos, se foi mantendo e tornando adulta, apesar de certos tiques que, aqui e ali, têm despontado. Valeu a pena? Mesmo que a alma fosse pequena teria valido infinitamente a pena.
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Jornal Torrejano, 25 de Abril de 2008
Na opinião comece-se pelo habitual cartoon de Hélder Dias. José Ricardo Costa escreve Badajoz em Abril, Santana-Maia Leonardo, Liberdade sem medo, Jorge Salgado Simões, Outra vez a fome, Carlos Nuno, E o futuro?, Carlos Henriques, Sporting goleado pelo último. Por fim este blogger escreve As quatro estações do 25 de Abril.
Não havendo mais a tratar, encerra-se este post com a esperança de haver mais notícias do Jornal Torrejano já para a próxima semana.
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen
Postado por Jorge Carreira Maia à(s) 19:33 1 comentários
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À procura de um lugar
Há um PSD que não tem vergonha, mas que acima de tudo tem uma indisfarçável sofreguidão pelo poder. Santana Lopes ou Jardim são bons porque parece que são umas máquinas a ganhar eleições. Que sejam risíveis enquanto governantes nacionais, isso já não conta. Longe vão os tempos em que Sá Carneiro dizia que em primeiro lugar vinha o país, depois a democracia, por fim a social-democracia, isto é, o partido. Agora, em primeiro lugar, vem um ego disforme (seja o de Menezes, o do menino-guerreiro ou o do senhor da Madeira), depois o partido. Quanto à democracia e ao país, logo se há-de arranjar qualquer coisa. O problema é que esta é a gente que está sintonizada com o espírito do tempo.
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23/04/08
Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Vinte e nove
rosas, secreto jardim onde caminhavas
pelas tardes em que o sol ensanguentava o horizonte
e, com teus passos de névoa, calcavas ao de leve
a erva que das tempestades protegia a terra.
Tocavas nos frutos e deixavas que o aroma das rosas
viesse contigo e te abraçasse e depois
fizesse parte desse corpo branco que era o teu.
Ao longe, eu espreitava-te e via uma deusa
envolta num secreto odor e o perfume que então
se desprendia formava nuvens brancas no céu
e, quando chovia, era uma água de rosas
que regava o pomar onde te escondias para colher,
nessas tardes inquietas em que te olhava,
flores e frutos como se fossem uma imagem azul
grudada num mar tranquilo onde as ondas morrem
devagar, na linha de areia a que todos chamam praia.
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Alberto João Jardim
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Francis Lemarque - A Paris
Uma descoberta recente, Francis Lemarque. Esta Paris aqui cantada, apesar de nunca a ter conhecido, é a minha Paris. Ela nunca existiu a não ser na imaginação de milhões de não parisienses que julgavam ser lá o centro do mundo. Não era, mas deveria ser. E estaríamos lá todos a conversar com o Sartre e o Camus, a ouvir a Gréco e os mais antigos como a Piaf, este Lemarque, o Bourvil, o Montand, eu sei lá... Ainda hoje o acordeão parisiense me amolece o coração. Para não falar de certas fotografias de Robert Doisneau. Estou irremediavelmente velho.
A Paris Francis Lemarque
Colocado por utopike13
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Indisciplina escolar e negação ministerial
Apesar de se darem muitos pontapés aos professores (embora a maior parte venha do Ministério da Educação), os alunos não andam, todos eles, ao pontapé ao professor. Há, no entanto, uma elevada taxa de agressões e uma atitude disciplinar dos alunos inaceitável e que impede o trabalho escolar. A senhora ministra quer dizer aos portugueses que a indisciplina é residual. Porquê? Para não pôr em causa a sua tese de que os maus resultados dos alunos são devidos aos professores. Se as pessoas admitem a existência, nas escolas, de um clima de indisciplina que impede o trabalho, se esse clima de indisciplina está assente numa cultura pouco voltada para o trabalho escolar, lá vão por água abaixo as estapafúrdias teses ministeriais sobre o insucesso escolar e os chumbos. A senhora ministra não quer ver a realidade, pura e simplesmente porque ela desmente a sua visão da escola e dos professores. A única coisa a fazer, para manter uma fábula sem qualquer ligação ao que se passa na escola, é negar a realidade.
A relação da senhora ministra com a vida escolar está a atingir foros apenas compreensíveis no âmbito da teoria analítica de Freud. A negação, em psicanálise, é a tentativa de não aceitar na consciência qualquer coisa que perturba o ego. Esta negação sistemática da realidade, esta negação que combina a hiperbolização do facto com a sua negação, revela uma perturbação das convicções ministeriais. É como se todo o edifício arquitectado por aquela pessoa pudesse ruir com a admissão da realidade. Isso percebe-se até pela formação sociológica da senhora ministra. Ela sabe claramente que o insucesso escolar tem causas sociais que os professores não podem dominar nem são responsáveis por elas. É esse saber que tem de ser recalcado e o recalcamento só pode acontecer se a realidade for negada. A máscara de solidez da senhora ministra é apenas e só uma máscara. Há uma enorme convulsão por detrás da pose. Ela pressente, ao nível do inconsciente, que seguiu um caminho completamente errado e absurdo. Há um conflito interior patente que se disfarça através de uma pose hierática e da enfática afirmação de convicções. Mas a pose, para quem está habituado a ler, é apenas uma táctica de luta contra aquilo que ela pressente e que de certa maneira sabe: a falsidade em que assenta a sua política. A negação da indisciplina nas escolas é o ponto central dessa táctica que visa recalcar a vinda à consciência de um saber traumático.
Tratado de Lisboa e a morte da democracia
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22/04/08
Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Vinte e oito
28 - Gustav Klimt – Poppy Field [Campo de Papoilas]
Vinte e oito
Não haverá piqueniques de burguesas, nem
ramalhetes rubros de papoilas, nem talhadas de melão,
nem damascos ou pão-de-ló molhado em malvasia.
Não haverá aguarelas nem seios como rolas,
nem acampamentos sobre penhascos.
Não haverá nada desse mundo que o tempo levou,
nem os versos do poeta iluminam já
quem pelos campos passa e vê papoilas ou
flores silvestres, o vento as inclina.
Não haverá a voz do mar a bater na falésia,
nem a urgência da água a estrondear na rebentação.
Não haverá calor em teus olhos,
nem brancura no horizonte, nem nas mãos
que são tuas habitará, como num campo de papoilas,
o fim da solidão.
Jorge Carreira Maia, Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt, 2008
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Gramophone: Errei Sim - Dalva de Oliveira
Dalva de Oliveira. Sabe-se lá por quê, comecei a gostar, faz tempo, deste tipo de coisas. O nome de Dalva de Oliveira tinha-me chegado, há muitos anos, numa canção cantada por Maria Bethânia, já não sei em que álbum. Mas nunca tinha ouvido a Dalva ela mesma. Um dia, tropecei com o nome e mandei vir dois cd's dela do Brasil. Fiquei adepto. Aqui, numa gravação pré-histórica.
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José Manuel Fernandes - Duas entrevistas, duas formas de olhar a Educação
Em contrapartida, o que é que é sublinhado na entrevista do português que acaba de receber um prémio europeu pelo seu trabalho em prol da divulgação da ciência? Que em cada grau de ensino há um núcleo de conhecimentos básicos que têm de ser adquiridos, sob pena de, progredindo sem os assimilar, nunca mais os alunos conseguirem recuperar o atraso. Citando o megaestudo realizado por uma equipa vastíssima e pluridisciplinar que trabalhou sobre as dificuldades do ensino da Matemática nos Estados Unidos, Nuno Crato sublinhava uma das suas conclusões: "O que esse documento recomenda é que em cada momento se encerrem etapas e se passe à etapa seguinte."
O que diz a isto a ministra? Diz que Portugal é "o país onde há mais chumbos" (o relatório de 2006 do PISA não confirma esta afirmação, se bem que estejamos realmente entre os países onde os alunos ficam mais vezes retidos). "[Por isso], o nosso sistema não seria facilitista, seria exigente, mas na realidade é facilitista, porque esta repetência não serve para aumentar o rigor e a exigência, [ficando os repetentes] numa espécie de limbo que depois prejudicam muitíssimo os nossos resultados."
Colocado o problema desta forma, dir-se-á que o problema está nas escolas e nos professores - só neles, nunca no ministério. Na verdade, não faltarão escolas mal dirigidas e professores incapazes ou deficientes, mas muito do que se passa nas escolas é uma emanação directa das ordens vindas do ministério. "Hoje fala-se muito de autonomia das escolas, mas que autonomia é que estas têm, quando até estão totalmente condicionadas nos horários que fazem?", interrogava-se Nuno Crato na sua entrevista ao PÚBLICO e à Renascença.
A ministra confirma, ao sublinhar na mesma entrevista que, por sua intervenção, as crianças agora nunca estão no recreio, estão em aulas ou em aulas de substituição. É de tal forma impensável colocá-las no recreio que, se a professora do famoso vídeo da Carolina Michaelis tivesse optado por expulsar a aluno, em vez de lhe tirar o telemóvel, teria de a) chamar um auxiliar de educação; b) assegurar que este levava a aluna para uma dessas aulas (com o telemóvel) ou para a biblioteca (sempre com o telemóvel), pois é isso que estabelece o celerado Estatuto do Aluno. Ou seja, desistiria de dar o resto da aula. E, ao não ser agredida, nem filmada, permitiria que a ministra pudesse dizer, como voltou a dizer na referida entrevista, que "as nossas escolas são espaços pacíficos". Pois são. É por isso que o ano lectivo passado foram registados em Portugal 390 casos agressões a professores, apesar de tudo não muito mais que o 221 ocorridos no Reino Unido. Como lá há 420 mil docentes e cá 150 mil, a relação de agressões por docente é "só" cinco vezes maior em Portugal. Somos mesmo um país pacífico de crianças bem-educadas e escolas tranquilas, não somos? [Público de 22 de Abril de 2008]
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A morte de Francisco Martins Rodrigues
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21/04/08
Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Vinte e sete
a pedir a leveza do céu e uma água
azul para refrescar as casas que daqui, tão longe no tempo,
ainda vejo. Caminho e as veredas da memória
são pedras duras onde os pés ardem de cansaço.
Vou sob as raízes daquelas árvores
e apuro o ouvido para escutar as palavras,
ao longe ainda as oiço. Estranha língua a dos mortos,
palavras ruminadas eles nos trazem,
como se as sílabas se despegassem umas das outras,
tornando cada palavra mais lenta e as frases
um prenúncio de eternidade.
Ali, na sabedoria definitiva da morte, eles,
os que partiram para onde ninguém quer saber,
dão-nos lições verdes como as ervas do campo
ou as folhas que as árvores ainda sustêm.
Já não caminham, apenas jazem sob a terra
e aspiram a água parada no lago.
Se tudo fosse pálido como a quietude de estar morto
ou se o movimento se fixasse naquele instante onde
o mundo se torna mais veloz, as palavras tornar-se-iam
eternas e na boca de cada um haveria um fiat
e Deus ouviria, replicado no tempo que parou,
a palavra primeira e única que da sua boca saiu.
Casas, árvores, água, flores, tudo ficaria na eternidade
e tudo seria apenas eco e sombra da palavra
que, ao ser assim tão primeira, se repartiu nas mil árvores
suspensas que sob a minha cabeça vagueiam,
como se o espírito as tivesse abandonado
e na deriva que as tomou a vida se tornasse incerta
e as cores, paralisadas pelo pânico da sombra,
se multiplicassem em raios de luz,
da terra o Sol aquecem e iluminam.
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Earl Hines in Berlin (1965) - part I & II
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Ruben A. - KAOS
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Manuela Ferreira Leite, Cavaco e Sócrates
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Corre, corre, Santana Lopes
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20/04/08
Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Vinte e seis
Entrelaçados os corpos
e o rosto para o rosto
inclinado, sobra uma nuvem
no céu que é aquele regaço.
Quando acordarem
serão sereias sem corpo,
pequenas tílias abraçadas
ou dedos esquecidos
no ardor do cansaço.
Jorge Carreira Maia, Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt, 2008
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Grupo Recreativo e talvez Desportivo da Segunda Circular
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Charles Trenet - Douce France
Não seria a isto que deveríamos chamar, em tempos, "nacional-cançonetismo"?
CHARLES TRENET - DOUCE FRANCE
Colocado por Francis-Albert
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Se Júdice o diz…
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A entrevista da Ministra da Educação ao Correio da Manhã
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Ministra da Educação: chumbar é facilitismo
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19/04/08
Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Vinte e cinco
tão silenciosos são que se confundem com
as sombras do arvoredo ou a seda azul
com que o céu reveste as quietas águas
ali abandonadas. Se fixamos o olhar, logo
surpreendemos o leve restolhar das asas,
pois eles voam ao de leve na sombra
pálida que cobre como um véu o mundo.
Por vezes, vêm raparigas, despem-se,
escondem as roupas e entram delicadas
nas águas, então aquecidas pelo sol de Agosto.
Logo os anjos ficam suspensos daqueles
corpos tão brancos e incógnitos
protegem-nas a cada mergulho do mal
que sob a água sempre se esconde.
Quando elas partem, corpo húmido
e vestidos colados à pele, voam
em círculos sob a copa das árvores.
Depois, olham o céu e oram para que amanhã,
sob o sol escaldante do verão, elas retornem
e despidas entrem nas águas tranquilas
onde eles habitam e assim as
protejam daquilo que o destino
na beleza do mundo sempre oculta.
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A ministra das novas oportunidades
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A morte do cónego Melo
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Os candidatos do PSD
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Pacheco Pereira e o beco sem saída
Para além da má-fé de Pacheco Pereira, má-fé fundada na ostensiva ignorância daquilo que opõe os professores ao ME (Estatuto da Carreira que elimina a liberdade pedagógica e divide a carreira de forma arbitrária, o miserável concurso para professor titular, o Estatuto do Aluno e a burocratização desta forma de avaliação e da própria profissão), Pacheco Pereira escamoteia o verdadeiro beco a que se está a conduzir a Educação e que vai atingir o país e os alunos de forma tão ou mais violenta do que atinge, neste momento, os professores. Há toda uma agenda semi-oculta que se orienta para retirar aos alunos da escola pública o direito a aprender, facilitando-lhes até à náusea a vida escolar, como forma de os tornar pouco competitivos no acesso às melhores universidades.
Desde o primeiro ciclo até ao 12.º ano, tudo é uma enorme confusão: currículos, programas disciplinares, práticas pedagógicas, formas de avaliação dos alunos, regime disciplinar. Este é o verdadeiro beco sem saída. Talvez os sindicalistas não entrem nele, mas os professores, os alunos, as famílias e o próprio país estão atolados nesse beco. E é este beco que Pacheco Pereira e muitos outros, mesmo se por vezes reconhecem as razões dos professores, se recusam a ver. Há uma estranha, ou nem por isso, solidariedade de clã, clã que une universitários, jornalistas e políticos, que assenta a sua opinião no desprezo pelo professorado do ensino não superior. É esse corporativismo oculto que não permite a essa gente suspeitar o abismo que se está a abrir, também e muito pela acção do actual governo, na área da educação. A avaliação de professores é apenas um pormenor no mar de problemas. Pormenor que poderia ter sido resolvido com toda a facilidade não fora o caso do governo estar interessadíssimo na confusão que armou.
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