O alelo 334
Como estive fora, só hoje dei por esta agradável notícia. Ficamos assim a saber que, segundo a psicóloga francesa Maryse Vaillant, a infidelidade masculina pode ajudar a salvar o casamento. Mas as coisas não ficam por aqui. Nós, os que pertencemos ao sexo masculino, não só podemos ser infiéis - para salvar o casamento, entenda-se -, como se o não formos é caso para desconfiar: «os homens que não têm casos extraconjugais podem ter “uma fraqueza de carácter”.» E qual é o homem que quer ter uma fraqueza de carácter? A sábia psicóloga esclarece: «Por norma, estes homens tiveram "um pai que era fisicamente ou moralmente ausente", e desta forma, "têm uma visão completamente idealizada da figura do pai e da função paternal. Eles não têm flexibilidade e são prisioneiros de uma imagem idealizada das funções do homem”. »
Dirá o leitor, ou a leitora, que tudo isso são especulações de uma ciência espúria, a Psicologia. São preconceitos actuais contra preconceitos antigos. Eu concordo, mas o problema é outro. Estava eu à procura de uma imagem para ilustrar este post e descubro isto: «A culpa da infidelidade masculina pode ser… dos genes. À primeira vista parece uma desculpa de um marido adúltero, mas cientistas suecos confirmam esta teoria. Segundo os investigadores do Instituto Karolinska de Estocolmo os homens que possuem um determinado gene, o alelo 334, têm mais tendência a cometer a fatídica “facada” no matrimónio. Um dos cientistas responsáveis pelo estudo afirma que “os homens que possuem uma ou duas cópias desta variação especifica no gene, têm o dobro das hipóteses de experimentar problemas com relações monogâmicas”.»
As especulações psicológicas parecem então fundar-se na pesquisa genética. O que me aborrece no meio disto tudo, porém, é que as minhas hipotéticas infidelidade ou fidelidade, mais ou menos canina, não se deverão nem a um estado passional nem ao meu livre-arbítrio, mas ao facto de possuir ou não uma ou várias cópias do alelo 334. Que depressão! Um infiel que se preze até perde a vontade de o ser ao pensar que aquilo não é ele, mas o alelo 334 em acção. Com tudo isto é a liberdade que se vai. Como compensação, naqueles países onde existe a civilizada prática de lapidação de adúlteros, passam apenas a apedrejar as mulheres (que definitivamente não têm alelo 334 e logo nada justifica a infidelidade) e os alelos 334.
3 comentários:
Entre lançar as culpas dos próprios actos para a parceira ou para a genética, não há grandes alterações. O homem, per si, enquanto ser consciente, continua a reclamar inocência perante a traição.
Curiosamente, as mulheres empenham-se bastante neste tipo de teoria. Mas não é de espantar, são elas as primeiras a procurar meios para descupabilizar os homens...
No próximo Natal, vou pedir um gene desses. Tem é que vir acompanhado de outros factores, inexplicaveis geneticamente, para levar a cabo uma traição.
Cá para mim, um dia destes,a ciência descobrirá um gene nunca antes perspectivado, acompanhado de um novo slogan, embadeirado também pelo género feminino: "Acima a infidelidade!"
Mera coincidência, acabei de ler isto: "Em primeiro lugar, um ser vivo é composto pela alma e pelo corpo;a primeira é o governante por natureza, o segundo o governado. (...) nos indivíduos que têm uma índole perversa, tem-se a impressão de que é o corpo a governar a alma, devido à condição degradada e desnaturada", Aristóteles, Política, Livro I
De alelos 334 não percebia o Aristóteles. Mas, como ele diz, há coisas das quais já "se tem uma impressão". A ciência moderna, 2400anos depois, limita-se apenas a dar-nos alelos. Se Aristóteles aparecesse agora por cá, depois de lhe explicarem a engraçadinha história dos alelos, iria reagir como o escravo grego do Ménon.
JR
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