A rede clientelar
A prodigalidade afonsina para com os nobres tinha os seus custos. As despesas do erário régio para pagar tenças e demais rendas à nobreza atingia valores astronómicos, destinados a manter uma vasta rede clientelar que não podia deixar de ver em Afonso V um monarca útil e compensador. A nobreza, sobretudo a grande nobreza, estruturava-se cada vez mais pela sua posição relativa face à Coroa, pelos laços de parentesco entretecidos com a família real, pelo montante das tenças que recebia, pelos cargos que ocupava na corte. Até a Casa de Bragança, verdadeiro potentado feudal que poderia rivalizar com o rei, não escapava a esta lógica. No fundo, era a lógica de uma simbiose que garantia à nobreza o seu engrandecimento e à realeza a sua segurança. [Bernardo Vasconcelos e Sousa, (2009). "Idade Média", in Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro, História de Portugal. Lisboa: A Esfera dos Livros, pp. 160]
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Como é que, em Portugal, o poder sobrevive? Não é apenas através da contenção de poderes concorrentes. Fá-lo também através das alianças com os potentados que possam emergir (mas em caso de necessidade, nunca hesitou em destruí-los) e pela criação de uma rede clientelar. O número de clientes muda em conformidade com o tipo de regime. É mais familiar em regime-monárquico-aristocrático ou mais amplo, na criação de uma imensa força de servidores de Estado, no regime democrático. A questão, porém, é a mesma, assegurar uma base de apoio que permita o regime funcionar e o poder não cair na rua. Esta é uma tradição inerente ao próprio desenvolvimento histórico do poder em Portugal.
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