23/01/10

A bondade das regiões


O Zé Manel Trincão Marques, no Terra Nossa, faz um post sobre as regiões na Europa (cf. também este post de JTM e discussão subsequente). A informação coligida é interessante e pertinente para o debate que parece adivinhar-se. No entanto, os argumento finais que parecem justificar a defesa da regionalização política de Portugal são perigosos: Independentemente da sua dimensão, os países europeus mais desenvolvidos são aqueles que possuem possuem administração regional intermédia descentralizada. A regionalização é um factor de desenvolvimento.

Com argumentos destes, em muitas das áreas da governação, temos conseguido fazer o pior. Esta argumentação, que repousa na suposição, difícil de demonstrar, que aquilo que é bom para os outros é bom para nós, acaba por fazer tábua rasa das condições concretas do nosso país. Abole a sua cultura atávica, ignora o tipo de povo que somos e a classe política que temos, escamoteia a sua tradição histórica.

Eu sei que quando se fala em desenvolvimento temos por hábito ficar extasiados, prontos para copiar um qualquer modelo mais ou menos original que nos salve e que abre o caminho marítimo para o desenvolvimento. O resultado é o triste impasse em que vivemos na actualidade, um país a empobrecer e que não pressente qualquer tipo de saída.

O atraso do nosso desenvolvimento não se deve à falta de regiões político-administrativas, mas à atitude que temos para com a vida, a sociedade, o trabalho, o saber, e a virtude cívica. E os outros países são desenvolvidos não por terem regiões mas pela sua atitude, a qual lhes permite ter regiões.

Em abstracto, eu compreendo os argumentos a favor da regionalização. Aliás, penso que é público (devo ter escrito um artigo no Jornal Torrejano, na altura), votei a favor das regiões no referendo de 1998. Hoje, tenho uma posição muito mais céptica sobre a bondade das regiões em Portugal. A racionalidade abstracta diz-me que sim, mas a razoabilidade prudencial aconselha-me que não. Começar a legitimar grupos organizados em torno de interesses específicos, tendo em conta o tipo de cultura que é a nossa, vai ser o primeiro passo para um enorme sarilho. Há coisas que são caricatas, mas que convém perceber do que são elas sintoma. Refiro-me, por exemplo, ao futebol e a tudo o que se passa em torno do conflito FC Porto e SL Benfica. Não sejamos ingénuos. Não se trata apenas de jogos de bola e de campeonatos que se ganham ou perdem. Aliás, a própria Justiça sabe-o muito bem, de tão enlameada que tem sido - por si mesma, diga-se - desde há muito, nesse conflito inqualificável. Percebe-se bem, por detrás dos clamores futebolísticos, ânsias que pouco têm a ver com a bola. Com grupos politicamente legitimados, a chantagem sobre o Estado-nação não ficaria atrás daquela a nos habituámos com a Madeira.

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