29/01/10

A utopia conservadora


O Zé Ricardo faz uma citação de um belo texto de Michael Oakeshott sobre a natureza do ser conservador em política. No essencial, estou de acordo com a visão conservadora de Oakeshott. No fundo, ela não é mais do que a sábia prudência e a justa medida dos gregos. O curioso, porém, é que a crítica da utopia que está presente no texto e no pensar do filósofo anglo-saxónico não deixa de ser ela mesma utópica. Quando diz "Ser conservador, portanto, é preferir o familiar ao desconhecido, preferir o experimentado ao não experimentado..." refere apenas um ideal. O grande problema é que, mesmo na política, há momentos em que o não familiar e o desconhecido se apresentam perante os homens. Nesses momentos, não há experiência que os valha. Terão, mesmo contra vontade, de trilhar o não-experimentado. Há em tudo o que é humano uma caducidade. Por isso, também as instituições se tornam obsoletas e dão lugar a outras, muitas vezes pelo amotinamento geral.

Faz sentido o pensamento conservador como desconstrução do desejo revolucionário, do querer revolucionar as instituições que ainda são sólidas e merecem conservação. Mas há um outro lado. As revoluções não nascem do desejo dos revolucionários. Elas são como um terramoto, uma espécie de acontecimento natural, onde o não familiar reclama o não-experimentado. A sua facticidade é ultrajante. Em primeiro lugar, ultraja os defensores da velha ordem (como foi possível 1789, ou como foi possível ou o 5 de Outubro, ou... ou...?). Mas ultraja, também, os supostos revolucionários. As revoluções, como muito bem viu de Maistre, conduzem mais os homens do que estes a elas. Nestes momentos, o ideal conservador é puramente utópico. É inútil, nesses momentos de excepção, tentar parar o carro (desejo conservador) ou conduzi-lo (desejo revolucionário).

Em certas alturas históricas que nunca escolhemos, só o não-conhecido possibilita encontrar um princípio de ordem para o caos natural que impera nas relações sociais. Será esse princípio de ordem totalmente desconhecido que acabará, com o tempo, por se tornar no familiar e no conhecido que vale a pena conservar.

1 comentário:

maria correia disse...

...porém, será sempre o espírito revolucionário que fará andar os tempos, avançar para um estádio mais perfeito.