27/01/10

Finalmente

Não há nada a fazer, somos mesmo assim. Retorno à saga da busca do livro necessário. No dia 29 de Novembro, depois de percorrer as livrarias on-line portuguesas ou a operar em Portugal, encomendo numa delas, a única que fazia referência ao livro, uma obra que necessito para as minhas aulas deste segundo período. Pensei, ingenuamente, que uma encomenda feita no fim de Novembro chegaria a meados de Dezembro. Não chegou. Passou Dezembro com as festas, já Janeiro se ia adentrando pelo tempo fora, decido enviar um e-mail à tal livraria on-line. Não me responderam, como já aqui contei. A 12 de Janeiro, passados três ou quatro dias do envio do email, ligo para os serviços de atendimento ao cliente. A senhora que me atendeu foi bem simpática, disse que ia ligar para o armazém e ver o que se passava. Passado uma hora, ligou-me. Pedia muita desculpa, mas já não distribuíam os livros daquela editora. A simpatia da senhora não anula, porém, três coisas. Em primeiro lugar, o desfasamento do catálogo on-line com a realidade (uma coisa muito corrente nas livrarias on-line portuguesas ou a operar em Portugal). Em segundo lugar, o desprezo evidenciado pelo cliente e manifestado na ausência de resposta a um pedido. Em terceiro lugar, a ineficiência dos serviços. Mesmo que houvesse um desfasamento no catálogo on-line, um serviço eficiente informaria rapidamente o cliente do equívoco, pedir-lhe-ia desculpa e adiantaria que ao cartão de crédito não tinha sido debitada qualquer quantia.

Aproveitando a simpatia da senhora do atendimento, pedi-lhe a informação de quem era a edição do livro, pois não constava do catálogo on-line. Lá fui informado, coisa que me deixou eternamente grato. Era um centro de investigação de uma universidade portuguesa. Liguei de imediato, nesse dia 12 de Janeiro, para lá. Perguntei quem era o distribuidor actual dos livros que editavam. Ninguém, o próprio centro os vendia na sede ou enviava pelo correio. Então, disse, faço a encomenda de imediato por via telefónica. Não pode ser, responderam-me, tem de enviar um email para ficarmos com o registo. Muito bem. Posso pagar on-line? Não, enviamos os livros à cobrança (perante o catálogo, eu decidira comprar outras obras para além da que precisava). Doze de Janeiro era uma terça-feira, e eu, que nunca me curo da ingenuidade (ingenuidade acima dos 40 é burrice, como diz uma amiga), imaginei que lá para sexta-feira teria os livros, até porque explicava a minha urgência. A verdade, porém, é que só hoje, dia 27 de Janeiro, os tenho na mão.

No dia 20 de Janeiro, decidi comprar os Collected Poems, de Philip Larkin. Fi-lo no Reino Unido através da Amazon.co.uk. Ontem dia 26, já pude ler alguns poemas de Larkin. Há qualquer coisa que não funciona em Portugal. E isto não se refere apenas às instituições do Estado. A iniciativa privada é tão ineficiente quanto os serviços públicos. Neste caso até é bastante mais, pois a editora do livro nem está vocacionada para funcionar como editora ou como distribuidora e servir eficientemente, nesse âmbito, os clientes. Quando se fala em crise, estamos a falar disto, desta atitude, desta efectiva falta de competitividade. E o que é aqui a falta de competitividade? Não é outra coisa senão a falta de atenção e de respeito pelo outro, mesmo que este apareça na figura do cliente, isto é, daquele que paga para a empresa sobreviver. Tudo isto é também um problema ético. Para muitas das nossas empresas e instituições o outro não é a sua razão de ser.

2 comentários:

Anónimo disse...

Embora considere absolutamente correcta a visão apresentada, senti um incómodo perante a generalização da ideia de que o outro é a razão primeira de existência de qualquer empresa.
Chegada aqui consigo separar o certo do menos certo, apesar de todas as pessoas e empresas trabalharem sempre para alguém, não é linear que o outro deva ser sempre visto e tratado como O CLIENTE, sob pena de criarmos grandes confusões acerca de quem deve proporcionar prazer a quem...
Nos neg+ocios de porta aberta, quem lá está deveria no mínimo querer ter clientes, já para não falar em mantê-los.
Há poucos anos havia na rua onde vivo uma loja de um senhor que não gostava de vender, creio que por motivações estéticas, gostava que a sua loja apresentasse sempre a mesma mercadoria...
Certo dia quis comprar um jogo de xadrez e damas num estojo de madeira e apesar de eu o estar a ver, o senhor insistia dizendo não ter nada disso.
Mas imagine uma escola...
aqui pensar em clientes já é mais complicado, ao limite se quem paga tem o direito a ser satisfeito...
Perigoso.
E um País?
Quem são os clientes e os senhores da loja?...
De repente lembrei-me do Algarve nos anos 90 e pensei que talvez haja no português um horror em servir portugueses...
Ou então, aquele grilo do pinóquio, anda sempre atrás de nós a segredar : - Deixa-os esperar, que aqui mandas tu, mostra-lhes que já não és empregado, agora és tu que mandas...

Jorge Carreira Maia disse...

Julgo que estamos de acordo, apenas afastados pelas palavras. Por exemplo, uma escola não é uma emmpresa, embora seja uma organização. O outro da escola, mesmo que esta seja particular, não é um cliente, mas aluno. A satisfação do aluno refere-se ao bem específco que a escola distribui, o saber, mesmo que ele não queira aprender esse saber. O mesmo se pode dizer de um hospital, de um quartel ou de uma igreja. Visam sempre satisfazer uma exigência vinda do outro (do paciente, do cidadão, do crente). Mas o curioso, é que nessas organizações, contrariamente às económicas, a satisfação do outro é mediada pela própria natureza da instituição, das suas regras e dos seus princípios fundadores. As coisas começam a correr mal, como diz, quando se pensa que essas organizações devem satisfazer pura e simplesmente os desejos daqueles que a elas recorrem.