10/01/10

O 'Cintinho e a Therezinha Velho


N'essa sua mudez e indecisão de sombra surdira, ao fim do luto do papá, o gosto muito vivo de tornear madeiras ao torno: depois, mais tarde, com a melada flôr dos seus vinte annos, brotou n'elle outro sentimento, de desejo e de pasmo, pela filha do desembargador Velho, uma menina redondinha como uma rôla, educada n'um convento de Paris, e tão habilidosa que esmaltava, dourava, concertava relogios e fabricava chapéos de feltro. [Eça de Queiroz, A Cidade e as Serras]
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No processo de me tornar num kindle-man, tenho estado à procura a a experimentar diversos textos disponíveis na internet. Um deles foi A Cidade e as Serras, de José Maria Eça de Queiroz. Li este livro já há tantos anos que não me lembrava do humor que nele havia. Pus-me, maravilhado com a excelência do suporte de leitura, a ler o livro. Quando cheguei, logo no início, aqui, à descrição dos pais de Jacinto, o 'Cintinho e a Therezinha Velho, não resisti a partilhar o implacável retrato da burguesia portuguesa. Ele sombrio e ela redondinha que nem uma rola, ambos dados aos exercícios mecânicos de carácter manual. Mantive, para criar a ambiência necessária, a ortografia original. O que fica para discussão sobre o retrato da mãe de Jacinto é se esta descrição é ironia fina ou sarcasmo violento.

1 comentário:

maria correia disse...

É ironia fina, embora Eça seja mestre nas duas coisas...

A Cidade e as Serras foi um dos livros de que mais gostei do Eça,e nunca me esquecerei da descrição da viagem até às serras, da natureza tão maravailhosamente pintada, do contraste e choque que Jacinto sente, homem educado na finesse parisiense...e da canja de galinha que lhe oferecem, creio que à chegada...acho que cou fazer canja, de galinha, amanhã, só pelo sabor que o autor tão bem descreve e que nunca esqueci...embora aqui não encontre galinhas daquelas..

Boa leitura!