03/07/08

Urgência em aprender filosofia?

Graças ao Zé Ricardo Costa cheguei a este artigo do Guardian on-line: Schools of thought: teach children philosophy, experts urge. Quais os argumentos dos drs. Michael Hand e Carrie Winstanley para defender a presença da filosofia no currículo escolar desde bem cedo? Enumeremo-los:

1. Pensadores críticos são pessoas que raciocinam bem e que julgam e agem com base no seu raciocínio.
2. Para se tornarem pensadores críticos, as crianças devem aprender o que constitui um bom raciocínio e por que motivo é importante – e isto são assuntos filosóficos.
3. Melhor do que qualquer outro assunto, a filosofia ensina as crianças como avaliar razões, defender posições, definir termos, avaliar fontes de informação e julgar o valor de argumentos e de evidências.
4. A filosofia também permite às crianças mais novas comprometer-se em discussões e argumentações mesmo antes de saber muito.
5. A filosofia tem um papel importante no ensino de problemas controversos, como o aborto, da análise conceptual na escola primária e na educação moral e religiosa.
6. A filosofia é importante também na educação para a inteligência filosófica dos temas da literatura infantil, na busca de sentido por parte dos adolescentes e na busca da sabedoria (entendida como forma de se saber comportar na vida).

Estes argumentos, que mostram bem a necessidade de uma entrada mais larga da filosofia no currículo escolar, são claramente argumentos que, em Portugal, têm conduzido a uma restrição da importância da filosofia no ensino secundário. O que a filosofia faz é tornar os jovens em pensadores críticos. Mas será que a nossa sociedade e os nossos dirigentes políticos têm qualquer interesse na produção em larga escala de gente que pense criticamente? Se olharmos para as medidas do actual ministério da Educação, o que vemos é o sentido contrário: quanto mais acrítico, ignorante e incapaz de raciocinar por si, melhor será o aluno. Talvez os ingleses estejam interessados em desenvolver o espírito crítico do seu povo. Em Portugal, porém, o espírito de rebanho, a fidelidade canina, o abanar a cauda e o pôr o rabinho a jeito são os skills mais apreciados, desde a classe política até aos empresários, passando pela nova nomenklatura que, por iniciativa do ministério da Educação, está a tomar conta das escolas e a assegurar que não se ultrapasse nunca o nível da indigência. Para dizer a verdade, a escola pública está a ser vítimas de uma OPA hostil por parte dos cultores da indigência, gente que odeia a filosofia e ainda mais o espírito crítico. A filosofia faria todo o sentido se Portugal fosse um país a sério e de gente séria e que se quisesse erguer acima da mediocridade em que vive. Nas actuais circunstâncias, as competências a ensinar serão sempre aquelas que terão mais aceitação social: a sabujice, o lambe-botismo, o ataque traiçoeiro, a manhosice rasteira e o fundamental, não o esqueçamos, abanar a cauda e salivar com as palavras do dono. A presença da filosofia no currículo do ensino secundário em Portugal é um espinho cravado na garganta da classe política. Ainda não foi completamente eliminada por medo da reacção de certos sectores influentes, como a Igreja e alguma comunicação social. A filosofia sempre foi um empreendimento de homens livres. Mas em Portugal aprecia-se particularmente os escravos. O escravo não precisa de saber pensar, desde que obedeça e se ponha a jeito.