08/07/08

Exodus - XV

Caminhavam sem estandarte, olhos sujeitos
ao poente, ao sol que se esconde além
da terra. Respiravam o vapor dos campos,
o óleo derramado pelo chão, o alcatrão o cobre.
Se cantavam, ninguém os escutava, a voz
assombrava-se e a boca não se abria.

Mudos, marchavam na noite e irrompiam
na alvorada, exaustos, a desenhar mapas,
a traçar constelações, a descobrir entre dedos
lagos de sombra e praias de cascalho.
Ao nome, se um dia lho deram, tinham esquecido,
e só por sinais e gestos de si sabiam.

Gelados, acampavam pelas planícies
e olhavam os céus, criando uma geometria
frágil, sem círculos nem rectas, apenas
alguns pontos e em sua órbita a fugaz
luz, mortal e extraviada, de um cometa.

Jorge Carreira Maia (2007). Exodus.

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