Um país de empresários
Antes de aparecer o génio da política Pedro Passos Coelho, o PSD tinha na cartola um outro génio. Dava pelo nome singelo de António Borges. Figura fantasmagórica que pairava no ar como uma ameaça. Parece que a sua natureza genial se tem vindo a desfazer, mas ele está mais presente do que nunca. Agora é vice-presidente da congregação laranja. Hoje teve direito a artigo de opinião no Público. Do alto da sua antiga genialidade diz-nos coisas extraordinárias como esta: «Portugal é um país de empresários.» Com medo de que os indígenas não compreendessem acrescentou: «Não precisamos de ir ao período das Descobertas para nos apercebermos do espírito de iniciativa e do gosto pelo risco que muitos portugueses evidenciam, desde que as condições sejam favoráveis ao empreendedorismo.»
Mas que exemplos o ex-génio encontra para sustentar tão extraordinária tese? «Na década de 60, Portugal foi um dos países de crescimento económico mais rápido do mundo.» E acrescenta o segundo caso: «Entre 85 e 95, a economia não só cresceu muito depressa, mas também se transformou profundamente, com o aparecimento de muitas novas empresas e o fim de muitas outras.» Olhemos para a realidade da nossa propalada vocação empresarial. Década de 60, Borges fala na EFTA, mas esquece a lei do condicionamento industrial (vigorou até 69), a ausência de direitos sindicais e o controlo dos conflitos sociais através da polícia política e da censura. No segundo caso, todos percebem o gosto empresarial: foi nos tempos áureos dos fundos da CEE.
Sem querer, António Borges mostra bem o contrário daquilo que pretenderia afirmar. Será que as “condições favoráveis ao empreendedorismo” que ele defende passam pelo condicionamento industrial, a polícia política, o fim dos direitos sindicais, o retorno da censura e o dinheiro fácil, tudo isto sob a mão mais ou menos pesada do Estado? Quando um ex-génio da política e economista liberal de renome internacional – segundo diziam – diz coisas destas, o melhor é ir pregar para outra freguesia. Um país de empresários? Só se for de jogadores da bola e de raparigas do alterne.
Mas que exemplos o ex-génio encontra para sustentar tão extraordinária tese? «Na década de 60, Portugal foi um dos países de crescimento económico mais rápido do mundo.» E acrescenta o segundo caso: «Entre 85 e 95, a economia não só cresceu muito depressa, mas também se transformou profundamente, com o aparecimento de muitas novas empresas e o fim de muitas outras.» Olhemos para a realidade da nossa propalada vocação empresarial. Década de 60, Borges fala na EFTA, mas esquece a lei do condicionamento industrial (vigorou até 69), a ausência de direitos sindicais e o controlo dos conflitos sociais através da polícia política e da censura. No segundo caso, todos percebem o gosto empresarial: foi nos tempos áureos dos fundos da CEE.
Sem querer, António Borges mostra bem o contrário daquilo que pretenderia afirmar. Será que as “condições favoráveis ao empreendedorismo” que ele defende passam pelo condicionamento industrial, a polícia política, o fim dos direitos sindicais, o retorno da censura e o dinheiro fácil, tudo isto sob a mão mais ou menos pesada do Estado? Quando um ex-génio da política e economista liberal de renome internacional – segundo diziam – diz coisas destas, o melhor é ir pregar para outra freguesia. Um país de empresários? Só se for de jogadores da bola e de raparigas do alterne.
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