11/07/08

Exodus - XVIII

Já não há quem se multiplique, feneceu a aritmética
e os cálculos foram à sombra abandonados.
Um esquecimento tão esquecido cresceu obsessivo
e obsessivo se ergueu, pegou em suas mãos vazias
e com elas desenhou um milhafre ferido.
As pústulas eram tão perfeitas no arco pelo peito
desenhado, se o pássaro respirava, a própria
perfeição o impelia, enquanto o caminho
decrescia e a dor era um mar a lavrar
sob a pele tumefacta, dos pulmões o movimento escondia.

Queima os livros, a parca juventude os deu,
acende com eles uma fogueira e aqueça ela,
no Inverno, o frio pensar. Deixa arder,
em feroz combustão, conceitos, a tudo recolhem,
juízos, uma ordem vesperal trazem,
raciocínios, aí encorpa a cega loucura.
Vem falar não a tigres, mas a homens sentados
nas espessas esplanadas da cidade.
Desenha-lhes um carro cego e, com inquieto dedo,
mostra-lhes o caminho onde gritem de pavor,
tocados pela mansidão debruada pelo cântico
dos limoeiros. Ó exaustas sentenças, cansadas
equações, leves chagas cobertas pelo pó das gramáticas:
cantem a raiva rosada pela álgebra, rasto
eterno no fogo das colinas, verdes de tanto Outono.

Jorge Carreira Maia (2007). Exodus.

Sem comentários: