Esmeralda e a justiça enquanto novela
A metamorfose dos casos judiciais em novela não é apenas um truque de órgãos de comunicação social necessitados de assunto para preencher espaço editorial, nem uma simples emanação da necessidade de satisfazer os instintos voyeuristas de massas indigentes e alienadas. É um sintoma da profunda dificuldade da justiça encontrar um caminho claro para cumprir o seu papel de garante da paz pública. O caso Esmeralda, como outros casos, é um exemplo refinado de uma intriga romanesca, com as suas peripécias inesperadas e volte-faces dramáticos. Tudo se passa como se os detentores do poder judicial fossem incapazes de dizer o direito. Esta incapacidade de proferir o direito radica em duas coisas distintas. Por um lado na incapacidade de determinar o que se passou, como no caso Maddie. Por outro, na extraordinária, embora silenciosa, confissão de não se saber o que é o justo, como parece ser o que acontece no caso Esmeralda. Talvez toda a crise da justiça portuguesa tenha a sua raiz nesta ignorância do que é o justo, mesmo se para muitos juízes o justo não seja mais do que a lei positiva. Seja como for, a incerteza do que aconteceu ou a inquietação sobre o sentido da justiça são os pilares que permitem que qualquer caso se transforme numa narrativa romanesca. Onde há crise, há intriga e uma necessidade de partilhar essa intriga em forma de novela.
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