09/07/08

Exodus - XVI

Não havia túmulos nos brancos cemitérios,
às águas escoavam vindas do extremo norte.
Se era uma época de flores, todos partiam
pelo seu pé, viajantes tão frios no olhar,
dúbias figuras iluminadas pelas trevas,
as que cobrem de vestígios os campos,
da terra levam ao mar.

Na devastação da tristeza, abria-se uma arena de folhas
onde os que caminham foram e colheram rosas amarelas,
da volúpia vinham, e sob o impulso do vento
inundaram o curso dos jardins sobre a esfera terrestre.
Nas terras geladas, cobriam-se os dias
com um manto de cinza e no céu o chumbo
derretia-se pelo fogo glacial, a tua pena o desenhava.
Nessa inconstância, as mulheres
deixavam as madeixas cobrir a fronte, sombrear
os olhos, infestar os prados do coração.
Um negrume vinha então do fundo do corpo
e todos se calavam, enquanto os pés tocavam
o chão e num gesto premeditado faziam avançar,
como se libertação fosse, cada um
para a rosácea rumorejante, a fonte do destino, diziam.

Quando suspenderam a mão, no meio caminho
que do corpo à raiz conduz, um clarão
riscou como um machado a linha pura
do horizonte. As aves juntaram-se em bandos,
colónias nos fios da terra erguidos, olharam
os céus e de bico cerrado voaram para o vazio,
à sua frente um deus o estendera.
Já ninguém sabia ler o voo dos pássaros
e na escuridão da sabedoria viram-nos partir.
Se havia silêncio, o choro das crianças
o quebrou e dessa tarde resta na poeira
uma recordação de frutos maduros,
abandonados na orla de espuma,
o mar na praia a esboça.

Jorge Carreira Maia (2007). Exodus.

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