18/07/08

Ora adivinhem lá

Não há nada como as redes de solidariedade para ajudar alguém em dificuldades. A Visão – revista herdeira do defunto O Jornal – tem uma rubrica denominada Radar: flashback, que pretende ser uma leitura pessoal (de um convidado) dos acontecimentos mais importantes da semana. O convidado escolhe as boas notícias e as más. Esta semana a convidada foi Lígia Amâncio e entre as boas notícias escolheu os Progressos na Educação. E o que diz a ilustre convidada? Diz o seguinte: «A Comissão Europeia identificou progressos nalguns indicadores da educação. Entre o muito ainda a fazer, destaca-se a socialização de uma ética de trabalho que já se poderá ter agora repercutido nos resultados dos exames de Matemática. Há que assegurar a sustentabilidade das melhorias, apesar dos interesses particulares que desprezam as estatísticas da educação e o sucesso dos alunos.» Assim, preto no branco, para que ninguém se engane na leitura.

A esta douta senhora o facto de se suspeitar – e suspeitar de forma generalizada – de que a melhoria dos resultados assenta na ética da facilidade das provas não incomoda minimamente. Foi uma nova ética do trabalho – não se sabe muito bem onde existiu essa revolução ética, mas deve ter ocorrido. Interessante, também, é a conexão que a senhora estabelece entre “interesses particulares” e desprezo pelas “estatísticas da educação e o sucesso dos alunos”. Aprendi, então, que aqueles que acham o actual sucesso dos alunos uma mera manobra estatística sem qualquer repercussão efectiva nas aprendizagens reais defendem interesses particulares. Mas neste caso, eu estou de acordo com a senhora, pois esses defendem os interesses particulares de milhares e milhares de alunos vítimas da actual política educativa. Mas posições como a de Lígia Monteiro são muito úteis para aqueles grupos sociais cujos filhos estudam em instituições onde as políticas do sucesso e a nova ética do trabalho têm mais dificuldade em penetrar e onde se valorizam as aprendizagens efectivas e não a ética do mero arremedo.

Falta apenas explicar quem é esta senhora. É uma ilustre catedrática. De onde? De onde haveria de ser? Do ISCTE. E em que área? Caro leitor, então não se vê mesmo: Psicologia Social e das Organizações. Ainda é vice-presidente da FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia). A solidariedade é uma coisa muito bonita. Azar mesmo é o destino daqueles alunos com grandes notas a Matemática e que vão penar duramente, nos próximos anos, nos cursos que a exigirem com seriedade. Mas isso já deve fazer partes da reacção na educação.

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