A teia do ISCTE

Até aqui tudo bem. Esperemos que os estudos possuam fiabilidade científica, pelo menos aquela que se poderá esperar de uma área como a sociologia. Só há dois pormenores que tornam a coisa um pouco desagradável. Em primeiro lugar, há uma crítica aos críticos da escola “facilitista”, onde o sociólogo faz gala do seu purismo lexical e sublinha a incongruência de não só se usar um vocábulo inexistente, “facilitista”, como os dados apontarem que a escola portuguesa é a mais difícil da OCDE (onde há mais retenções). Veio tomar partido. Em segundo lugar, advoga aquilo que parece ser prática de outros países (não indica quais, nem que práticas) e que se percebe ser a intencionalidade do actual Ministério da Educação: «Diversos países europeus já chegaram a essa conclusão e têm substituído as reprovações por sistemas diversificados de acompanhamento e apoio aos alunos com menor aproveitamento, o que não conduziu a mais indisciplina nem a menos estudo. Pelo contrário.» Mais uma vez veio tomar partido.
De tudo isto, cabe dizer o seguinte: o problema não está no acompanhamento desses alunos, mas na eficácia desse acompanhamento e do empenho que alunos e famílias dão a esse esforço suplementar da instituição escola; também está em causa a ideia de um currículo idêntico para todos os alunos, pelo menos com a amplitude que existe neste momento; em terceiro lugar, há qualquer coisa de tenebroso neste tipo de discurso. Uma coisa é dizer que os estudos indicam a falência dos modelos usados relativamente à reprovação de alunos, bem como a das explicações das causas do insucesso. Outra coisa, porém, é a partir daí indicar o caminho político que se deve seguir. Como todos sabemos, com os mesmos estudos poderemos indicar várias políticas diferentes e todas elas fundadas nessa «objectividade científica». Poder-se-ia, por exemplo, argumentar que o trabalho com os alunos retidos não é o mais adequado, ou que o sistema não fornece alternativas reais ao equilíbrio da decisão dos professores em fazer transitar ou reter um aluno, etc. Depois, como o leitor mais atento não deixará de perceber, surge implícita a conexão ISCTE-ME a fazer-nos pensar numa teia de afinidades electivas, digamos assim. Bem, yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay…
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