12/07/08

Exodus - XIX

Lívidas figuras na escuridão se desenham,
lívidas figuras de tudo se acercam, como regato
de outro regato, ou os dias aos dias, neles
escrevo sobre a brancura exausta da areia...
Vêm ondas e as palavras soçobram na água,
as sílabas a desfazer-se, sobejam letras órfãs
e lágrimas correm e tumultuam a face,
ganem na floresta, se para o tormento da luz
os segredos, lívidas figuras, expulsam.

Assim como vos levei sobre os pássaros da tarde,
e vos trouxe a mim, descerei no dorso
de um animal e em seu caminhar derrubarei
flores, jardins de pedras, palavras de ócio,
poemas, espelhos despolidos, rasgados em
cada verso que a outro segue. Não cantam,
não indicam e quando falam, ainda a nuvem
fica por dizer, mesmo se iluminada, mesmo se crua.
Um gesto, o esgar da garganta, o débil sopro
da voz e não mais do que do pó pérola o poema é.

Jorge Carreira Maia (2007). Exodus.

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