Da social-democracia em Portugal
A política portuguesa vive um equívoco profundo desde a sua instauração em 1974. Esse equívoco está ligado ao ideário da social-democracia. Ainda hoje, na sua crónica no Público, Vasco Pulido Valente dizia que Manuela Ferreira Leite representa a facção social-democrata do PSD. Para sermos precisos, convinha sublinhar que, na verdade, nunca existiu social-democracia em Portugal. O Partido Socialista é aquele que maior legitimidade possui na reivindicação de ligação ao ideário social-democrata, pelas suas ligações aos partidos social-democratas europeus e à Internacional Socialista. Mas mesmo ele não se inscreve, pela sua origem fundacional, nessa corrente ideológica.
Os partidos social-democratas são de origem operária e estão ligados à II Internacional. Num primeiro período da sua existência eram partidos de carácter revolucionário que se transformaram, mais tarde, em partidos reformistas, mas mantiveram durante muitos e muitos decénios uma estreita ligação ao mundo operário e aos sindicatos. Veja-se, por exemplo, o Partido Social-Democrata alemão, o Partido Trabalhista inglês ou o Partido Socialista Operário Espanhol. O Partido Socialista português deriva não de uma tradição operária, mas de uma tradição republicana e burguesa de carácter intelectual e liberal que cresceu na oposição ao salazarismo. A verdadeira matriz ideológica do PS é o republicanismo e o antifascismo.
Falar de social-democracia no PSD é então um equívoco inominável. Se a tradição operária é inexistente no PS, então no PSD só por caricatura se poderá falar de tal coisa. Na desorientação que tomou conta da direita portuguesa em 1974, não houve coragem para encontrar matrizes claramente identificadoras das posições ideológicas dos eleitores de direita. Ferreira Leite ou Cavaco Silva estão muito mais próximos das tradições social-cristãs ou democrata-cristãs do que da genuína social-democracia.
No fundo, é este persistente equívoco na matriz ideológica dos dois maiores partidos portugueses que leva a situações como a actual, onde, de facto, não existe uma diferença essencial nas políticas a levar a efeito, nem sequer uma diferença fundamental na origem social dos quadros desses partidos. O problema da identidade de políticas entre PS e PSD não reside apenas nas imposições de Bruxelas e da União Europeia. Ela tem a ver com a sua identidade originária, apesar de ao PSD faltar a costela antifascista presente no PS.
Como não tem qualquer tradição em Portugal, a social-democracia é um saco onde cabe tudo e nada. Dizer que alguém, no mundo da nossa política, é social-democrata é dizer que ele pode defender tudo e o seu contrário. Só isso.
Os partidos social-democratas são de origem operária e estão ligados à II Internacional. Num primeiro período da sua existência eram partidos de carácter revolucionário que se transformaram, mais tarde, em partidos reformistas, mas mantiveram durante muitos e muitos decénios uma estreita ligação ao mundo operário e aos sindicatos. Veja-se, por exemplo, o Partido Social-Democrata alemão, o Partido Trabalhista inglês ou o Partido Socialista Operário Espanhol. O Partido Socialista português deriva não de uma tradição operária, mas de uma tradição republicana e burguesa de carácter intelectual e liberal que cresceu na oposição ao salazarismo. A verdadeira matriz ideológica do PS é o republicanismo e o antifascismo.
Falar de social-democracia no PSD é então um equívoco inominável. Se a tradição operária é inexistente no PS, então no PSD só por caricatura se poderá falar de tal coisa. Na desorientação que tomou conta da direita portuguesa em 1974, não houve coragem para encontrar matrizes claramente identificadoras das posições ideológicas dos eleitores de direita. Ferreira Leite ou Cavaco Silva estão muito mais próximos das tradições social-cristãs ou democrata-cristãs do que da genuína social-democracia.
No fundo, é este persistente equívoco na matriz ideológica dos dois maiores partidos portugueses que leva a situações como a actual, onde, de facto, não existe uma diferença essencial nas políticas a levar a efeito, nem sequer uma diferença fundamental na origem social dos quadros desses partidos. O problema da identidade de políticas entre PS e PSD não reside apenas nas imposições de Bruxelas e da União Europeia. Ela tem a ver com a sua identidade originária, apesar de ao PSD faltar a costela antifascista presente no PS.
Como não tem qualquer tradição em Portugal, a social-democracia é um saco onde cabe tudo e nada. Dizer que alguém, no mundo da nossa política, é social-democrata é dizer que ele pode defender tudo e o seu contrário. Só isso.
1 comentário:
Subscrevo totalmente, alias tenho escrito varios posts sobre o tema dizendo precisamente o mesmo, se mais pessoas soubessem da realidade...
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