25/10/07

A morte do Professor

Este texto, que agora se reproduz, foi publicado por este blogger no Jornal Torrejano, há mais de três anos, na parte final da governação de Durão Barroso. Os sinais da perseguição aos professores já eram, para mim, claros. A ideologia do «eduquês» estava assanhada e pronta para a perseguição. Está consumada a morte do professor.
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«Acompanhei, ao longo da vida, uma transformação radical da forma como se olha o Professor. Do respeito pela sua figura, passou-se ao desprezo e, por fim, ao ódio ao que é a essência dum verdadeiro Professor: o amor ao saber, o gosto de ensinar, um espírito livre, independente e individualizado. Era este o tipo de Professor que os alunos admiravam e que fazia despertar vocações, descobrir mundos, abrir horizontes. Este Professor foi achincalhado, objecto de desprezo e, por fim, executado.

Políticos, sacerdotes da pedagogia, burocracia ministerial e até docentes, decidiram aniquilar a figura incómoda de um Professor livre, independente, orgulhoso da sua individualidade, amante do saber. Como? Transformando a escola num calvário burocrático, dando relevo aos procedimentos formais, fazendo crescer, ano após ano, o peso de inúteis reuniões e de actividades lunáticas, de relatórios infinitos, obrigando ao dito “trabalho de equipa” como se fosse uma virtude, desvalorizando o saber científico, o trabalho de sala de aula, a liberdade de ensinar, a responsabilidade individual, e acabando com os exames onde alunos e professores prestavam contas da sua actividade.

O que a ditadura não tinha conseguido fê-lo a democracia: destruir a figura do Professor através da paranóia pedagógica. Não quer, como professores, homens livres, mas burocratas! Por isso, transformou o Professor em pedagogo. Em Roma, o pedagogo era o escravo que levava as crianças à escola. O pedagogo actual também não ensina; toma conta da criançada, trabalha em equipa (o rebanho de escravos) sobre coisa nenhuma e faz relatórios das suas inúteis actividades. Os resultados escolares, cada vez piores, falam por si! Este processo idiota e degradante, porém, vai continuar sem fim à vista. O aluamento dos pedagogos do ministério não tem fim, o ressentimento dos burocratas é enorme, os políticos são inimputáveis e a insensatez desmedida. Portugal sempre odiou o saber!»

1 comentário:

jlf disse...

É claro que não pode estar consumada - nem em vias disso - a morte do professor.
Mas que há uma grande volta a dar ao sistema agora implementado e ao CONSENTIDO... Isso, sim.

Quando o sistema "der o pio", voltando a pôr cada um em seu lugar (escola, professor, aluno, pais, auxiliares) e quando voltarmos a ter as crianças a beber com o leitinho das mamãs um pouco de educação...

Então, sim.

Mas é capaz de levar algum tempo.

Destruir é rapidíssimo. Construir já leva mais tempo.