A Origem da Luz - Três
Olhar a macieira, imóvel espectro no centro
da terra, era de todos o único sonho.
Parados no soalho da casa, olhavam especados…
Ó como tomar da memória a coloração dos sons,
o timbre metálico dos odores, a caducidade dos gestos.
Dos vidros restava o estilhaçado papel de guerra,
essa recordação profunda do teu corpo.
Ó como os deuses desciam envoltos em seus halos
e em lentos e breves haustos abençoavam
pedras e heras, suspensas em ocultas mãos as amavam.
Galáxia ou um império de frutos a nascer,
os dedos aprenderam a luz da noite. A maçã,
em secreto pudor, reinava nas brancas paredes dos quartos,
onde disformes silhuetas jogavam os primeiros dados.
Lentamente, um pequeno raio fulgia e afogava os astros.
Jorge Carreira Maia, A Origem da Luz (1981)
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