José Matias Alves - Do empobrecimento das práticas docentes

Em rigor, ninguém pode responder as estas difíceis (mas necessárias) questões. Da parte do poder instituído, é óbvia a resposta: tudo está a melhorar. Da parte das oposições, óbvio o registo negativo. Já se sabe que a realidade não é a preto e branco. Que se não pode universalizar a resposta. Que há situações e situações. Que. Que. Certo. Mas deve poder ser possível definir com rigor a tendência, os prós e os contras, os ganhos e as perdas. Mas isso, só através da produção de conhecimento…
Para início do estudo, poder-se-iam colocar duas hipóteses antagónicas: as práticas docentes estão mais pobres; as práticas docentes estão mais ricas. E o resultado diria para que lado iria a verdade.
Arrisco a hipótese paradoxal do empobrecimento - para além da óbvia intensificação e complexificação - (e desafio os meus futuros mestrandos a fazerem desta hipótese o ponto de partida de uma investigação empírica - para a confirmarem ou negarem….). E arrisco-a baseado no seguinte: os docentes estão hoje muito mais tempo nas escolas; têm hoje, muitos deles, mais tempo lectivo; esta maior permanência é factor de desperdício porque não têm espaços, nem condições de trabalho individual e colectivo nas nossas escolas; estando mais ocupados e desperdiçando o (escasso) tempo terão depois menos tempo para o trabalho individual. Menos tempo para a preparação de aulas, menos tempo para avaliar formativamente os trabalhos dos seus alunos, menos tempo para ler, para investigar, menos tempo até para corrigir em casa os trabalhos produzidos nas turmas.
A confirmar-se esta hipótese (que pessoal e profissionalmente não desejo) será uma desgraça. Que nos obrigará a pensar nas políticas. E a ir para além das aparências. E é esta viagem que poderá fazer diariamente no Terrear. [José Matias Alves, Do empobrecimento das práticas docentes, Correio da Educação, n.º 309, de 15 de Outubro de 2007]
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