18/10/07

A Origem da Luz - Quatro

Tão alegre o tempo em que voltavas com teus mostruários,
pequenos faróis vermelhos, ébrios de tanto caminhar.
Sonolentas bicicletas iam e vinham, cerziam a aldeia de lés-a-lés,
como se um deus pequeno e infrutífero descesse
e poisasse na calma placidez dos dias.

Aqui, destas janelas, avistei o insuspeitado mundo
e nada era puro ou mácula alguma habitava
o regaço das mulheres. As coisas eram o enorme
incêndio de serem apenas coisas, pedaços terríveis
na sujeição ao tempo, feroz tribunal sem lei.

Eras a presença tutelar, o meu respeito,
caminho de argila e calcário a abrir-se ao mundo.
Trazias-me as cores e um dever ser, o crime jamais
alguém o pagará. Pedra a pedra o universo construiu-se e
sobre mim desabou. No centro, um deus pequeno e infrutífero nascia...

Jorge Carreira Maia, A Origem da Luz (1981)

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