Os pobres são menos inteligentes do que os ricos?

Ao contrário do que se tornou quase banal dizer, não foi a massificação do ensino público que comprometeu a sua qualidade. Os responsáveis por aquilo que os rankings cruamente espelham foram aqueles que fizeram da escola pública um espaço de experiências sociológicas. Passamos a vida a discutir os programas, mas um mau programa ainda é um programa. O pior foi baixar em cada ano lectivo o nível da exigência. Primeiro, porque era mais moderno. Depois, porque assim não se faziam distinções entre mais e menos inteligentes. Depois, porque o objectivo da escola não era ensinar conteúdos, mas sim ensinar a relacionar-se. Depois porque já não podia ser doutro modo. Os filhos dos pobres não são nem mais nem menos inteligentes que os filhos dos ricos. Tiveram sim foi o azar de os seus pais não ganharem o suficiente para os poupar a esse papel de cobaias de teorias que tanto vêem na ignorância o estado supremo da perfeição igualitária, como entendem que aprender tem de ser divertido e fácil. Nada disto afecta quem legisla, porque os seus filhos não estão nas escolas públicas ou quando estão souberam contornar o crivo das moradas e horários, de modo a frequentarem as turmas ditas "dos filhos dos professores". Quem não pode fugir das más escolas é quem não tem dinheiro nem conhecimentos. Alguns como Francisco Louçã querem agora diabolizar os rankings, vislumbrando apoios da extrema-direita aos colégios que se encontram nos primeiros lugares. Engana-se redondamente. Quem fez a fortuna recente das escolas de maristas, jesuítas e da Opus Dei, dos colégios franceses, ingleses e modernos, sem esquecer as escolas alemãs e americanas, foram precisamente aqueles - às vezes de esquerda mas nem sempre - que resolveram que a escola pública não era o local onde todos tinham igual oportunidade de aprender, mas sim o espaço onde a irrelevância medíocre dos resultados provaria que todos podemos ser igualmente ignorantes e irresponsáveis. [Helena Matos, Público, de 29 de Outubro]
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Nem vale a pena comentar, tão evidente é a coisa. Claro que há «crime» e há um «crime» contra os mais pobres. Mas também há aqueles que o cometeram e o cometem e cujos nomes são mais do que conhecidos. O problema é que além de poderosos são inimputáveis.
1 comentário:
De vez em quando a HM surpreende. Surpreende-me, quero dizer.
Também gostei.
(E arquivei, como de costume)
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