Notas sobre a guerra colonial, a propósito do programa de Joaquim Furtado

A segunda coisa a impressionar-me foi a natureza do nosso colonialismo. Era um colonialismo ingénuo e absolutamente amador, fundado na crença profunda da verdade da propaganda de Salazar. Aqueles colonos brancos acreditavam piamente que os angolanos queriam ser portugueses e que eram portugueses. Apesar de todos os problemas na fronteira de Angola com o Congo belga, apesar do conflito na colónia belga, ninguém, entre os colonos portugueses, acreditava numa revolta dos angolanos. Não havia praticamente exército de “ocupação” colonial, as populações europeias e as africanas próximas das europeias estavam completamente desprotegidas. Há, por tudo isto, uma coisa que parece certa: a autenticidade das convicções de Salazar. Salazar e uma parte dos portugueses, bem como dos angolanos, acreditavam na possibilidade de uma nação multi-territorial. Não havia cinismo, havia apenas uma incompreensão profunda do desenvolvimento da história mundial, um desconhecimento absoluto da realidade colonial e um amadorismo político-militar indescritível. Todos estes factores convergiram numa tragédia, muitas vezes silenciosa e muitas vezes silenciada, que tocou aos portugueses e aos povos que connosco estivem em guerra.
Nota: quem não viu o 1.º episódio, pode vê-lo no próximo Sábado, às 23, na RTP N.
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