Notas sobre a guerra colonial, a propósito do programa de Joaquim Furtado
Ontem começou a ser transmitida uma série sobre a guerra colonial, da autoria de Joaquim Furtado. O excelente episódio apresentado foi dedicado ao eclodir da guerra no norte de Angola, em 1961, fundamentalmente aos acontecimentos de 15 de Março. Houve duas coisas que me impressionaram vivamente. A primeira foi a bárbara acção da UPA (União dos Povos de Angola, que viria a dar origem à FNLA) de Holden Roberto. A guerra começou com ataques violentíssimos contra civis, brancos e negros, que estavam completamente desprotegidos e foram apanhados de surpresa. Eu já conhecia essa violência, mas nunca, que me lembre, tinha visto imagens. Estas são, ainda hoje, absolutamente horríveis. Ora, à luz do direito internacional hodierno, aqueles ataques dirigidos contra brancos e negros bailundos só poderiam configurar aquilo a que nos habituámos a chamar limpeza étnica. Não foram os militares ou as forças da ordem que foram atacados, foram populações muito pouco protegidas, fundamentalmente mulheres e crianças. Por muitas razões que os angolanos tivessem contra o regime colonial, o que aconteceu no 15 de Março foi uma página negra na história de libertação de Angola.
A segunda coisa a impressionar-me foi a natureza do nosso colonialismo. Era um colonialismo ingénuo e absolutamente amador, fundado na crença profunda da verdade da propaganda de Salazar. Aqueles colonos brancos acreditavam piamente que os angolanos queriam ser portugueses e que eram portugueses. Apesar de todos os problemas na fronteira de Angola com o Congo belga, apesar do conflito na colónia belga, ninguém, entre os colonos portugueses, acreditava numa revolta dos angolanos. Não havia praticamente exército de “ocupação” colonial, as populações europeias e as africanas próximas das europeias estavam completamente desprotegidas. Há, por tudo isto, uma coisa que parece certa: a autenticidade das convicções de Salazar. Salazar e uma parte dos portugueses, bem como dos angolanos, acreditavam na possibilidade de uma nação multi-territorial. Não havia cinismo, havia apenas uma incompreensão profunda do desenvolvimento da história mundial, um desconhecimento absoluto da realidade colonial e um amadorismo político-militar indescritível. Todos estes factores convergiram numa tragédia, muitas vezes silenciosa e muitas vezes silenciada, que tocou aos portugueses e aos povos que connosco estivem em guerra.
Nota: quem não viu o 1.º episódio, pode vê-lo no próximo Sábado, às 23, na RTP N.
A segunda coisa a impressionar-me foi a natureza do nosso colonialismo. Era um colonialismo ingénuo e absolutamente amador, fundado na crença profunda da verdade da propaganda de Salazar. Aqueles colonos brancos acreditavam piamente que os angolanos queriam ser portugueses e que eram portugueses. Apesar de todos os problemas na fronteira de Angola com o Congo belga, apesar do conflito na colónia belga, ninguém, entre os colonos portugueses, acreditava numa revolta dos angolanos. Não havia praticamente exército de “ocupação” colonial, as populações europeias e as africanas próximas das europeias estavam completamente desprotegidas. Há, por tudo isto, uma coisa que parece certa: a autenticidade das convicções de Salazar. Salazar e uma parte dos portugueses, bem como dos angolanos, acreditavam na possibilidade de uma nação multi-territorial. Não havia cinismo, havia apenas uma incompreensão profunda do desenvolvimento da história mundial, um desconhecimento absoluto da realidade colonial e um amadorismo político-militar indescritível. Todos estes factores convergiram numa tragédia, muitas vezes silenciosa e muitas vezes silenciada, que tocou aos portugueses e aos povos que connosco estivem em guerra.
Nota: quem não viu o 1.º episódio, pode vê-lo no próximo Sábado, às 23, na RTP N.
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