Friedrich Holderlin - Mnemósina
Maduros estão os frutos, mergulhados no fogo, fermentados
E na Terra postos à prova, e vigora uma lei
Segundo a qual tudo no interior desaparece, como serpentes,
Profeticamente, envolto em sonhos, sobre
As colinas do Céu. E muitas coisas
É preciso manter, como sobre
Os ombros o peso
Da lenha. Mas os atalhos são
Adversos. Pois dissociados,
Como cavalos, avançam os unidos
Elementos e as antigas
Leis da Terra. E há uma ânsia
Que sempre impele para o desregramento. Porém muito
É preciso manter. E a fidelidade urge.
Porém nem para a frente nem para trás queremos
Olhar. Deixarmo-nos embalar, como
O barco que no mar baloiça.
E as coisas do amor? O que vemos é
A luz do sol projectada no solo e o seco pó
E na terra natal as sombras das florestas e nos telhados
Floresce o fumo pacificamente
Na antiga coroa das torres; pois são bons
Os sinais do dia, mesmo que algum
Celestial tenha ferido a alma, contradizendo-a.
Pois a neve, como os lírios do vale,
Simbolizando a nobreza de espírito onde
Quer que ela esteja, brilha no
Verde prado dos Alpes,
Já quase derretida, quando, falando da Cruz, erguida
Outrora nos caminhos em memória
Dos que morreram, passa
Pela estrada alta um caminhante irado,
Pressentindo o já longínquo, junto
A outro, e o que será?
Junto à figueira morreu
O meu Aquiles,
E Ajax jaz
Junto às grutas do mar,
Junto a ribeiros próximos do Escamandro.
Outrora, segundo o costume inalterado
Da impassível Salamina,
No estrangeiro morreu o grande
Ajax de um silvo nas têmporas,
Pátroclo porém em arnês de rei. E muitos outros
Morreram ainda. Junto ao Citéron porém ficava
Elvetera, a cidade de Mnemósina. À qual também depois,
Quando Deus depôs o manto, o poente soltou
Os anéis do cabelo. Os Celestiais costumam ficar
Indignados, quando alguém, poupando a alma,
Se não contém, ele, porém, tem de fazê-lo; e também
A esse atinge o luto.
[Holderlin, Hinos Tardios, Tradução de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim]
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