30/10/07

Uma guerra que nunca existiu

Acabei de ver o terceiro episódio sobre a guerra em África, da autoria de Joaquim Furtado. Vê-se e ouve-se uma guerra recalcada, uma guerra que, para a generalidade dos portugueses, é, ainda hoje, um acontecimento estranho. As atrocidades da UPA e as dos colonos e militares portugueses são indescritíveis e, no entanto, quase nada no nosso tecido social dá conta desses acontecimentos da história recente do país. Durante treze anos Portugal esteve numa guerra como se não estivesse. Quando acabou, acabou como se se pusesse fim a umas leves escaramuças. Os únicos sinais visíveis, para além dos mortos, embora também estes fossem quase invisíveis, foram as pessoas que retornaram de África, aquando da descolonização. Mas até esses sinais desapareceram em meia dúzia de anos. Tirando o impacto emocional do início, devido à natureza selvática da chacina dos colonos brancos e populações negras aliadas, os portugueses da metrópole, como então se dizia, com excepção daqueles que tinham familiares na guerra, nunca sentiram que aquilo lhes dissesse respeito. Há quase 50 anos entrámos numa guerra que nunca existiu.

2 comentários:

Anónimo disse...

UPS, eu queria ter escrito isto:

"O José Gil lá sabe o que diz quando fala de Portugal como o país da não inscrição no real e onde se tem medo de existir.",

aqui, e não no outro post.

JR

Jorge Carreira Maia disse...

UPS, mas o outro post tem por objecto um objecto mais, como direi, envolvente e como tal desviador dos comentários vizinhos. Alguma deveria dar interesse à insipidez deste blogue, não é.