27/10/07

O português do Brasil

Confesso que nunca fui adepto da selecção brasileira de futebol, apesar de ser a melhor, nem dos pilotos brasileiros de Fórmula 1. Também nunca gostei de telenovela, nem sequer da Gabriela. Mas agora que há tantos brasileiros em Portugal, agora que não há lugar onde se vá em Lisboa que não se oiça brasileiros a falar, eu estou grato, muito grato, ao Brasil e aos brasileiros. Eles devolvem-me uma língua portuguesa tão aberta e calorosa, tão dúctil e inventiva, que eu poderia ficar horas num café a escutá-los, a ouvir-lhes o ritmo e o som, a descobrir a melodia, a registar o sentido. Muitos brasileiros estão em Portugal a trabalhar duramente. Mas se eles nada fizessem e apenas falassem, já a nossa dívida para com eles seria desmedida. Eles vieram abrir uma língua portuguesa que se fechava sobre si própria, dar-lhe alma e espírito e capacidade para voar. Era esta a língua de Camões, que é mais deles que nossa, que levámos para lá e que eles, com uma delicadeza tão cantabile, trazem de novo como um belo presente de Natal. Já nem me importo que o Brasil ganhe no futebol.

3 comentários:

Anónimo disse...

Há dias, no Público, o Nuno Pacheco, falava numa coisa muito interessante. Que tinha lido, penso que num jornal brasileiro, que a obra do Óscar Niemeyer estava a ser tombada. Ora, sendo ele arquitecto, a notícia deixaria qualquer pessoa preocupada. Só que, "tombada", neste contexto, significa "arquivada", vindo a expressão do português antigo, relacionada com o facto de se arquivarem obras na Torre do Tombo. Expressão que tombou em Portugal mas que se manteve firme, de pedra e cal, no Brasil.

JR

jlf disse...

Tombo, numa das suas acepções, significa, realmente, inventário, arquivo. E daí, sim, a Torre do Tombo.
Mas os brasileiros (conheço relativamente bem o meio e a "massa") são de extremos: ou muito puristas ou dum facilitismo incrível. De momento não me ocorre nenhum exemplo, mas todos encontramos no "brasilês", e com frequência, termos e expressões que o demonstram. Sobretudo quem acompanhar telenovelas.

Mãe Dinah disse...

É inegável que os portugueses reproduzem a língua de forma infinitamente mais correta que os brasileiros, mas também é fato que a sonorida que ela adquiriu no Brasil é igualmente bela.