29/10/07

A paranóia do inquérito

Ao fazer o post anterior, lembrei-me de uma das maiores pragas que atinge instituições públicas e privadas: a paranóia do inquérito. Por tudo e por nada faz-se um inquérito. Esta doença, um caso claro do foro psiquiátrico, está muito disseminada nas escolas, mas é vulgar também noutros locais, hospitais, centros de saúde, empresas, etc. Genericamente esses inquéritos, para além de aborrecerem quem é obrigado a responder-lhes, sofrem sistematicamente dos seguintes defeitos: 1. não assentam na definição clara do objecto que querem conhecer; 2. não seleccionam indicadores relevantes para o que se quer investigar; 3. a maior parte das vezes, o objecto que se quer conhecer não é “conhecível” através de um inquérito; 4. quem constrói os inquéritos raramente sabe lê-los; 5. depois de se obterem os resultados (a grande maioria das vezes completamente irrelevantes ou distorcidos), ninguém sabe o que há-de fazer com eles.

Eis como a ciência se torna inimiga das instituições. O inquérito tem um papel determinante nas ciências sociais, mas fora delas pode ser um perigo autêntico. Um inquérito é um instrumento de observação trabalhoso, que implica um domínio teórico e prático das técnicas de construção e um domínio teórico do objecto a observar. Como não há nada disso, o inquérito é um instrumento de uma ideologia paranóica que atingiu o nosso país, um instrumento que não serve para nada a não ser para massacrar as pessoas e para, no melhor dos casos, arquivar. Se eu fosse Ministro da Educação (ah! ah! ah!), por exemplo, proibia as escolas de fazerem inquéritos. Na escola os únicos inquéritos permitidos seriam os testes e as chamadas orais aos alunos. Os professores que gostassem de brincar aos inquéritos deveriam pedir transferência para um sítio onde aprendessem a fazê-los, por exemplo, o Instituto Nacional de Estatística.

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