15/10/07

A Origem da Luz - Um

Sol incendiando-me célula a célula, nasci.
Grande era o silêncio, mãe, o espaço aberto e côncavo,
aí desconhecia todas as metáforas.
Da serra vinham ventos, ateavam barulhos
nas árvores, esmeraldas em teus olhos.

Vítreos raios de sol venciam as laranjeiras,
acendiam velas nas paredes, archotes nos dedos.
Palavra a palavra cresceu o universo, o primeiro
enigma das estrelas, canções ainda puras
ao desprender-se fugiam para o tremor dos espaços.

Água, elemento frio e matinal, brotava
do poço e na terra floresciam ervas e pássaros.
Os meus cabelos eram cordas, pedaços de arame,
pequenos raios; ao erguer-se, incendiavam a lua,
o sol, as breves constelações de sílica e alabastro.

Jorge Carreira Maia, A Origem da Luz (1981)

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