Ainda o discurso do Presidente
O discurso de Cavaco Silva sobre a educação está repleto de banalidades, como, num post anterior, se assinalou. Algumas dessas banalidades são perigosas, como a de abrir a escola à comunidade. Sobre o prestigiar os professores, Cavaco Silva seria muito mais coerente se tivesse chumbado a série de diplomas, provenientes do Sr. Sócrates e da Sr. Dr. Maria de Lurdes, que os tornaram, aos professores, miseráveis e lhes roubaram o sentido da profissão, transformando-os num bando atordoado de burocratas. Mas há uma coisa que quero sublinhar e ser justo para com Cavaco. É aquilo que ele disse sobre os pais e que a televisão do Estado não me mostrou, pelo menos no Jornal da hora de almoço. Nessas palavras há coisas que subscrevo, que merecem realce, mas há outras que se prestam a interpretações dúbias, e a gente deste governo é perita em explorar a ambiguidade.
Essa é uma consciência que, antes de mais, tem de existir nos pais, o que pode exigir uma intervenção personalizada no sentido da adequada valorização da educação dos filhos. Preocupamo-nos em cuidar dos nossos filhos no plano material, mas é frequente julgarmos que a educação, o bem mais importante e decisivo para o seu futuro, é tarefa que compete sobretudo a outros. Muitos continuam a encarar as escolas como «fábricas de ensino», para as quais enviam os filhos e aí depositam por inteiro o trabalho de os formar para o futuro. A primeira grande interpelação deve ser feita aos pais: de que modo participam na educação dos vossos filhos? Não basta adquirir livros e manuais, assistir de quando em quando a reuniões de pais ou transportar diariamente os filhos à escola. Há toda uma cultura de autoexigência que deve ser estimulada nos pais, levando-os a envolver-se de forma mais activa e participante na qualidade do ensino, na funcionalidade e na conservação das instalações escolares, no apoio ao difícil trabalho dos professores [Cavaco Silva, 5 de Outubro].
Comentário: Os pais não devem envolver-se na qualidade do ensino. Os pais devem exigir um ensino de qualidade e envolver-se na exigência de estudo por parte dos filhos. Também não devem envolver-se na «funcionalidade e na conservação das instalações escolares». Devem exigir que os políticos façam o seu trabalho nesse âmbito. Os pais devem ser pais exigentes com os seus filhos, intervindo em casa e no seu comportamento social. Devem ser cidadãos exigentes. Mas que cada um faça o seu trabalho: os professores, nas escolas, que ensinem; os políticos, nos órgãos de decisão, que criem as condições de trabalho nas escolas; os pais em casa que eduquem. Misturar, na escola, professores, pais, políticos, associações culturais, empresários e o mais que ocorrer ao delírio de cada um, só pode aumentar o ruído e a confusão. Não nos confundamos.
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