Exames e pessimismo antropológico
Agora que estamos em tempos de exame, pensemos um pouco sobre eles. Qual o fundamento social para a existência de exames? Não é testar os conhecimentos ou avaliar os alunos. Observe-se o que acontece num exame. O dado essencial de um exame não é a prova, nem a sua resolução, nem os seus resultados, mas a vigilância. Um conjunto de alunos é submetido a uma prova vigiada por dois professores. Porquê? Porque é necessário vigiar as aprendizagens.
A sociedade não confia no ensino dos professores e na sua avaliação e precisa de a vigiar através de exames nacionais. Por outro lado, também não confia nos alunos. Por isso, estes, em exame, são vigiados por dois professores, que não apenas vigiam os alunos, mas que se vigiam entre si, não vá algum tergiversar. A coisa não fica por aqui. Os professores na vigilância são vigiados por funcionários, não deite um deles a correr escola fora. Há também a presença vigilante de outros professores que coordenam o processo e a própria direcção das escolas encontra-se em estado vígil. A inspecção, vigilante, inspecciona as vigilâncias.
Por fim, o Ministério da Educação, benévolo, está vigilante relativamente ao processo das vigilâncias. Nas traseiras de todo este processo de vigilância, encontra-se a ameaça de punição (vigiar e punir, Foucault dixit). Numa democracia, supõe-se que os eleitores vigiarão e estarão vigilantes relativamente ao poder político, incluindo aí o Ministério da Educação.
O fundamento social para a existência dos exames é a desconfiança no próximo. Os exames existem, como outros mecanismos sociais, porque a confiança entre os indivíduos que fazem parte de uma comunidade é muito frágil. A fragilidade da confiança, isto é, da fé (fiança) conjunta, leva à criação de mecanismos que evitem a suspeita e certifiquem os resultados, mostrando que eles são dignos de fé. Os exames são uma forma de aumentar a confiança social no trabalho dos professores e das escolas.
Abolir os exames – como se fez e alguns pretendem consumar esse facto, acabando com todos os exames – seria fazer fé no próximo. A causa é nobre, mas sofre de um optimismo antropológico não confirmado pela realidade. Os exames públicos são, pelo contrário, a expressão de um pessimismo antropológico. O homem não é um ser fiável e do qual os outros se possam fiar. Se isto estiver claro na nossa cabeça, percebemos a realidade dos exames e porque são necessários e porque deverão ser alargados a todos os ciclos.
Um estado de direito funciona segundo a lei e presume que todos são inocentes até prova em contrário. Contudo, esta confiança está assente num fundamento negativo: o da desconfiança geral entre os homens. A expressão «presunção de inocência» é o mais poderoso revelador desse fundamento negativo e, como os exames, uma forma de pessimismo antropológico.
A sociedade não confia no ensino dos professores e na sua avaliação e precisa de a vigiar através de exames nacionais. Por outro lado, também não confia nos alunos. Por isso, estes, em exame, são vigiados por dois professores, que não apenas vigiam os alunos, mas que se vigiam entre si, não vá algum tergiversar. A coisa não fica por aqui. Os professores na vigilância são vigiados por funcionários, não deite um deles a correr escola fora. Há também a presença vigilante de outros professores que coordenam o processo e a própria direcção das escolas encontra-se em estado vígil. A inspecção, vigilante, inspecciona as vigilâncias.
Por fim, o Ministério da Educação, benévolo, está vigilante relativamente ao processo das vigilâncias. Nas traseiras de todo este processo de vigilância, encontra-se a ameaça de punição (vigiar e punir, Foucault dixit). Numa democracia, supõe-se que os eleitores vigiarão e estarão vigilantes relativamente ao poder político, incluindo aí o Ministério da Educação.
O fundamento social para a existência dos exames é a desconfiança no próximo. Os exames existem, como outros mecanismos sociais, porque a confiança entre os indivíduos que fazem parte de uma comunidade é muito frágil. A fragilidade da confiança, isto é, da fé (fiança) conjunta, leva à criação de mecanismos que evitem a suspeita e certifiquem os resultados, mostrando que eles são dignos de fé. Os exames são uma forma de aumentar a confiança social no trabalho dos professores e das escolas.
Abolir os exames – como se fez e alguns pretendem consumar esse facto, acabando com todos os exames – seria fazer fé no próximo. A causa é nobre, mas sofre de um optimismo antropológico não confirmado pela realidade. Os exames públicos são, pelo contrário, a expressão de um pessimismo antropológico. O homem não é um ser fiável e do qual os outros se possam fiar. Se isto estiver claro na nossa cabeça, percebemos a realidade dos exames e porque são necessários e porque deverão ser alargados a todos os ciclos.
Um estado de direito funciona segundo a lei e presume que todos são inocentes até prova em contrário. Contudo, esta confiança está assente num fundamento negativo: o da desconfiança geral entre os homens. A expressão «presunção de inocência» é o mais poderoso revelador desse fundamento negativo e, como os exames, uma forma de pessimismo antropológico.
Se este pessimismo antropológico tivesse sido dominante nos últimos trinta anos, ter-se-iam evitado muitos disparates e a educação dos portugueses teria outras colorações e apresentaria outro aspecto.
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