07/06/07

O economista

O economista disse-me, depois de considerar suficiente a minha informação, que lesse estes e aqueles livros. Fi-lo, e o salto da literatura para a economia teórica foi intimamente espectacular; e isso que não eram mais do que livros de divulgação! Rapidamente comecei a navegar num mar de nomes ou siglas, de números, de relatórios sucintos, de previsões. Não só era uma lingua nova, como uma nova sintaxe, onde se usavam as palavras com significados muito precisos, sem ambiguidades, das quais o sentido de humor parecia ausente. Não levei muito tempo a concluir que nada havia mais enfado­nhamente sério do que a economia, nada mais racional e rigoroso. As vezes apa­recia-me como uma cadeia interminável de números, e outras com a forma quase geométrica de uma rede que abarcasse o mundo inteiro, talvez que o oprimisse, se bem que não com a mesma força em todos os lugares. Naquele mundo, a úni­ca realidade era o dinheiro, que se movia, crescia ou minguava segundo as suas próprias leis, sem que nada humano interviesse neste ir e vir, crescer e decrescer. Uma vez em que disse ao meu economista que o desemprego era um factor hu­mano, ele respondeu-me que, naquele mundo, o desemprego não existia senão sob a forma de subsídio, isto é, não fome e dor, mas sim mais números no cálculo geral. A realidade, segundo aquele homem me descrevia, era como se o mundo, por debaixo da sua multiplicidade infinita de acontecimentos, se movesse de acordo com um só e único argumento. Também me deu a entender que, por baixo dos governos, ou por cima, mas sempre com independência, o mundo era con­duzido por umas quantas pessoas, na City ou em Wall Street.

Gonzalo Torrente Ballester, Filomeno para meu pesar, Publicações Dom Quixote

Sem comentários: