10/06/07

Escravatura, o admirável mundo novo

Transcrevo do DN de hoje:

«Os portugueses e os polacos são os novos escravos da Holanda. Há também turcos, mas estes protegem-se mais. A classificação só pode parecer excessiva a quem não viveu nas condições destes emigrantes. O problema não é a dureza do trabalho - às vezes mais de dez horas em pé num espaço de 50 cm de uma fábrica e de madrugada ou numa estufa com um calor insuportável, estar sempre a ouvir snel, snel (rápido), não poder descansar ou ir à casa de banho fora das pausas e ter um chefe com os olhos fixos no que fazemos. O problema é saber que esse trabalho não está garantido. É estar disponível 24 horas por dia, seis dias por semana. É dormir com o telemóvel à cabeceira e acordar com o sobressalto de que nesse dia fica em casa. E se tiver a sorte de ir trabalhar, pode ser apenas por quatro/quatro horas e meia/cinco horas. E também pode acontecer estar de folga e ser chamado porque há mais trabalho que o previsto. É levantar-se às quatro da manhã para estar pronto às 04.45 para o carro da empresa o levar ao local de trabalho e o condutor não aparecer. O problema é estar permanentemente a mudar de casa. É nunca saber quem irá dormir no seu quarto, no sofá ou, até, na sua cama. É não ter privacidade. Em resumo: não ter vida própria.» Ver aqui:
http://dn.sapo.pt/2007/06/10/tema/portugueses_alimentam_nova_escravatu.html

Sobre tudo isto:

Eis a lógica da desregulamentação do mercado de trabalho: o que se visa é o trabalho escravo, que é inerente à lógica das sociedades modernas, aliás como muito bem viu, já no século XIX, Nietzsche. Ver mais abaixo post sobre o assunto:

Mas esta escravatura não é um episódio deslocado do contexto. Ela está no cerne de toda a vida social. Das palavras citadas, as finais dizem a essência do que se passa: “não ter vida própria”. Ora esta desapropriação da vida, para além da retórica sobre o privado e a defesa do privado, é a ideologia que subjaz à cultura televisiva que pulula por todo o Ocidente. No mundo como o nosso, não existe o «indivíduo», existem indivíduos que, não tendo rosto, nem nome, mas grandes contas bancárias, e interesses, legais, claro, destroem a possibilidade de outros terem também a sua individualidade, isto é, vida própria. Veja-se a televisão, os “media” em geral, mas também a forma como os indivíduos começam a ser a tratados nas instituições. Veja-se o caso da saúde ou da educação em Portugal. Neste aspecto, Portugal está na vanguarda. É uma tristeza ter nascido em Portugal, eis o que significa o 10 de Junho.

Imagem: Abelardo da Hora. Ver em:

2 comentários:

José Carrancudo disse...

Em relação a Educação, publicamos uma análise que identifica as principais razões da crise educativa, e aponta o caminho à saída. Razões essas prendem-se com as experiências irresponsáveis praticadas na nossa Escola nos últimos 20 anos. Esperemos que o Governo saiba ouvir a voz da Razão.

jlf disse...

Não sei se esta reportagem impressionará mais que a de há dias no Público, sobre o mesmo tema, mas reportada da China!...
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Miserável mundo novo, foi o que disse?