A Convenção do Bloco de Esquerda
O Bloco de Esquerda fez a sua convenção e confirmou aquilo que desde há muito os observadores mais atentos e descomprometidos já sabiam: o BE foi a forma encontrada por militantes da extrema-esquerda, após a queda do Muro de Berlim, fazerem o seu aggiornamento social-democrata. Eles que até lá não tiveram arrepios na consciência. O BE é hoje claramente um partido do sistema, o que em si é uma coisa boa, depois da entrada em crise das ideologias revolucionárias. O artigo de Vasco Pulido Valente, no Público de hoje, é letal (Tudo visto e considerado, e tirando o seu velho ódio igualitário à gravata, o Bloco acabou tristemente na social-democracia e só não está ainda no "centrão" porque o PS não precisa dele.), deixando perceber a evidência, para mim quase desde o início da existência do Bloco, de que não há, de facto, uma ruptura do CDS ao BE, passando por todos os outros partidos parlamentares. Diria que há apenas flexões de voz, numa linha de continuidade social-democratizante, mais ou menos vermelha, mais ou menos azul, ou laranja, ou rosa, com uns toques, aqui e ali, de liberalismo. A retórica socialista, anti-capitalista, e agora também ecologista, para militante não desanimar, soçobrará quando chegar a hora de entrar para o governo. E ela poderá chegar mais cedo do que se pensa. Nessa altura, até as gravatas voltarão. A vida é o que é. E isto da minha parte não é uma crítica, pelo contrário. Mas há coisas que convém constatar.
3 comentários:
Se eu fosse político diria (sair-me-ia, e bem, com um) simplesmente: não confirmo nem desminto.
Bom: por uma vez - finalmente (que não é nenhuma fatalidade. [Que vontade me deu de rir... Até parece!]) - que não concordo, de imediato com JCM.
É que tenho ainda algumas dúvidas.
Depois... (Eu também li o rezingão)... Ele nem sempre diz tudo... E nem sempre fala verdade... E são mais as vezes que ele é passível de descontos do que o inverso...
Ora, ora, meu amigo!
E mais: note que sempre me norteei pelo ancestral saber popular que recorda: tudo o que é demais é moléstia!
Sou dos que sempre acharam que os extremos se tocavam. Daí que nunca tivesse sentido qualquer surpresa pela evolução política de um D. Barroso ou dum Pacheco Pereira.
(Embora reconheça em PP, hoje, uma voz a ouvir... Já que neste novo estádio teve já a sua evolução... MAS!!!...)
E mais: "centrão"... NÃOOOOOO!
(Isto é tudo tão complicado!)
(Desta vez abusei. Desculpe.)
Sabe, o grande problema é que dentro do tipo de sociedade pós-industrial não há grandes saídas. A experiência do socialismo real foi o que foi e para além do capitalismo tal como ele é, ninguém conhece alternativa, a não ser os regimes teocráticos do Islão. Eles são de facto a única alternativa. Quem quer uma coisa dessas?
Portanto, o pessoal que anda metido em política [não falo do pobre militante de base que esse é carne para canhão, vai a comícios, a congressos, chega à junta da freguesia ou à assembleia municipal] sabe muito bem que não há alternativas, mas para ocupar um espaço político, tem de fazer pensar que há. Olhe para quem está à frente do BE. Aquele pessoal gosta do poder, por isso dedica a sua vida toda ele, mesmo que sejam universitários, ou isto, ou aquilo, o que eles gostam é do poder. Dentro do tipo de sociedade em que vivemos só se chega ao poder por este processo de socialdemocratização. Não há nisto nenhuma censura da minha parte. Quem vai para a política e permanece nela é porque quer chegar ao poder. Isso é legítimo e necessário. Mas também não confundo o discurso que serve para afirmar um espaço político e uma putativa pureza ideológica. Já estou muito velho para isso e passei pela política entre 73/74 e 77. Saí porque a questão do poder não me interessava, em absoluto, embora sempre me mantive um espectador comprometido, à maneira do R. Aron. Gosto do espectáculo do poder, e gosto de pensar sobre ele. Mas sem qualquer ilusão sobre a bondade de quem quer que seja. O poder é o lugar do mal absoluto.
Um abraço,
JCM
Ainda uma nota final. Se o poder é o lugar do mal absoluto, resta ao cidadão relativizá-lo e impedir que o poder, enquanto tal, se torne absoluto.
Por isso, o papel do VPV, o rezingão, é importante. Ao relativizar os políticos torna-os menos perigosos. É um importante serviço que VPV faz à comunidade e aos indivíduos.
Em cada um de nós há uma secreta vontade de submeter os outros. Mostrar o ridículo, ajuda a que essas pretensões sejam reduzidas.
JCM
Enviar um comentário