07/06/07

Estado social português: um exemplo

Hoje encontrei uma professora, minha amiga, à saída de uma farmácia. Tinha gasto, contou, cerca de 500 euros, só à sua conta, com a medicação que precisa de tomar no próximo mês e a fisioterapia a realizar. Está cancerosa. O prémio de dezenas de anos de dedicação à escola e aos alunos foi, depois de descoberta a doença, que doença, e passado um mês de atestado médico, cortarem-lhe um sexto do vencimento.

Eu sei que é para todos, mas nestes casos há qualquer coisa de absolutamente revoltante e de ignóbil. E a revolta perante casos destes, seja qual for o tipo de profissional em causa, público ou privado, resulta da consciência de que a governação das instituições foi durante muitos e muitos anos de uma absoluta irresponsabilidade. Quem paga, porém, não são os irresponsáveis, mas a imensa maioria dos governados.

O poder é o lugar por excelência do mal e muitas vezes do mal absoluto, mesmo que este não pareça tão absoluto quanto é. O véu da inimputabilidade talvez seja uma necessidade, mas permite, com o fim da ética do serviço público, a mais desenfreada irresponsabilidade das elites políticas. E um desprezo infinito pela dor dos outros. É a economia, estúpido, dirá um qualquer secretário-de-estado.

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