02/01/10

Um retrato da pátria (2)


O que terá a ver o retrato de 1966, feito mais abaixo, com o facto de haver dois milhões de portugueses (20% da população), que seriam quatro milhões se não fosse as ajudas do Estado, a viver em situação de pobreza? A crise em Portugal não é meramente conjuntural. Resulta de uma atitude política e social, onde a relação entre os portugueses, as elites políticas e a instrução geral tem um peso enorme e absolutamente nefasto. Salazar disseminou o desprezo pela instrução entre as camadas populares. A democracia disseminou o desprezo pelo esforço dentro da escolarização. Como não podia deixar de ser, há muito em comum na percepção da realidade por parte dos dirigentes políticos antes e após o 25 de Abril. Os resultados são os 4 milhões de pobres (40% da população), declarados ou disfarçados.

3 comentários:

Margarida Tomaz disse...

E o mais grave é que continuamos no caminho do desprezo pela instrução, resultante de aprendizagens que requerem do aprendente atiutudes de esforço. A ideia de que para se aprender tem de ser divertido continua a imperar e vai daí... muito pouco se aprende e hoje temos escolarizados no diploma que são autênticos analfabetos no uso da língua e sua modulação e nas bases culturais e geográficas que nos identificam. Argumentarão alguns mais optimistas que é uma questão de conflito de gerações, mas de geração em geração as experiências anteriores não deveriam servir para fazer melhor no presente?

PS - Nos tais colégios e escolas do top dos rankings era bom que se divulgasse a situação sócio-cultural e económica das famílias utentes! Nesses colégios e escolas de melhores resultados, os meninos já liam em casa, têm biblioteca em casa, muitos viajam, vão ao cinema, visitam património histórico com os pais, etc. Creio que foi Villas Boas que disse recentesmente que se o Estado apoiasse as crianças desprotegidas mais cedo, antes da adolescência, que a delinquência juvenil diminuiria drasticamente.

Jorge Carreira Maia disse...

E ainda há outra coisa nesses colégios (não são todos, há muitos colégios que enfim...). Os alunos têm o dever de estudar, caso contrário não passam mesmo ou, em alguns, são convidados a ir para outro sítio.

Margarida Tomaz disse...

Há uns 2 ou 3 anos, num encontro de escritores no Politécnico em Leiria, ouvi a Vasco Graça Moura referir que o neto, no colégio que frequentava (e não imagino que fosse qualquer um) tinha obrigatoriamente de ler 7 livros ao longo do ano lectivo. O porquê deste nº pode suscitar a nossa criatividade simbólica. A mim deixou-me a reflectir no quanto é difícil pedir aos alunos que leiam um livro, quando chegados à adolescência e me dizem que não leram nenhum. Nesse ano tinha uma turma no 8º, na qual tentava criar hábitos de leitura. No contrato tinham de ler um por período. Já assim havia sido no 7º. Com muito esforço, chegávamos ao final do ano e todos tinham lido pelo menos um livro. No 9º Ano assumi como batalha levar esses mesmos alunos a ler 9 livros. No final do ano todos tinham lido um, muitos tinham lido dois e três, alguns tinham lido 7 a 9 livros e alguns tinham lido bem mais. Claro que foi um remar contra a maré, pois a pedagogia dominante considera excessivo e vai daí, tabela-se pelos mínimos... E parece-me que é este tabelar pelos mínimos que temos de aalterar no ensino público, caso contrário andaremos sempre a adiar o problema.

Bom Ano 2010