03/01/10

Reconquista da liberdade


Esta adorável criancinha de babete, com aquele olhar sério e profundo, é a minha neta Vera. Colonizou, como só as potestades despóticas o sabem fazer, esta casa desde o dia 30 até hoje e submeteu-me, com os seus 15 meses, a um dos mais intensos períodos de exercício físico de que tenho memória. E eu fiz a tropa. Da pobre da avó, nem é bom falar. Para além de determinar que a sesta não deveria em caso algum ultrapassar a hora e meia, tinha como objectivo mexer em tudo o que fosse possível e ameaçar, a cada quarto de hora, partir a cabeça devido a uma manobra mais ou menos arriscada. Aliás, não seria a primeira vez que a partiria, pois na anterior passagem por cá, teve de fazer uma visita à urgência do hospital onde, na pequena cirurgia, foi brindada com quatro pontos num sobrolho. Os livros e cd's foram o principal alvo da força inimiga. Roubava dois ou três e corria com eles casa fora, comigo atrás. Ontem, para mostrar que está a crescer e a evoluir no bom sentido, decidiu tentar escalar uma das estantes. Um pé na prateleira de baixo e, agarrada a uma mais acima, tentava, sem êxito, claro, alçar o outro pé à segunda. De noite, porém, decidia compensar os decrépitos avós. Dormia a sono solto e aí por volta das 3 da manhã brindava-os com um concerto, onde a cada número interpretado se seguiam risos e palmas, para além de uma algaraviada incompreeensível, mas que se deduzia ser o comentário à actuação. Foi-se embora há pouco. A liberdade foi reconquistada, depois desta dura provação, mas a casa ficou infinitamente vazia.

7 comentários:

Alice N. disse...

Que linda é a sua neta! O que escreve recorda-me muito o que foi acompanhar o crescimento do meu filho (em circunstâncias, por vezes, muito difíceis, mas absolutamente felizes). Ainda não vivo o vazio da sua ausência, mas, se tudo continuar a correr bem em termos escolares, não tardará. É assim que deve ser, mas é muito angustiante. Ter um filho (e, suponho, um neto) é não poder nem desejar nunca mais ser "livre".
Desejo-lhe muitos momentos felizes ao lado da sua linda Vera.

Alice

Jorge Carreira Maia disse...

Alice, muito obrigado pelas suas palavras, em especial sobre a Verinha. É verdade, os filhos prendem-nos para o resto da vida, mas é uma prisão boa, diria que é uma prisão que nos liberta da limitação do tempo e nos abre para o futuro. Eles não são nós, mas nós somos neles.

Um Feliz Ano para si,

jcm

T disse...

Como o compreendo. Tenho um terrorzinho desses, volta e meia em casa. E como adora mexer no papel velho da tia-avó. Mas como diz e tão bem, a casa fica tão vazia sem eles.
:)

Jorge Carreira Maia disse...

Parecem, então, ter uma fixação no papel. Será o som, será o cheiro, será a plasticidade? Talvez os filhos e os netos deles já não tenham livros nem revistas ou jornais em papel para mexer. Os e-books tomarão o lugar. Enfim, farão o "terror" à sua maneira.

jcm

graça martins disse...

olá Jorge,
realmente a tua netita é uma princesa!

e também é bonita a forma como a descreves.

abraços,
graça

Jorge Carreira Maia disse...

Viva, Graça.

Obrigado. Como vai isso? Há muito que a gente não se vê.

Abraço,

jcm

T disse...

As duas sobrinhas-netas adoram papel. A de 4 anos já explica à pequenita: Não "Amélhia" são livros antigos, não e para rasgar!
Impávida e serena a dita cuja se a deixarmos devora-os. Mas ultimamente já gosta mais de os desfolhar só. Sinal de crecimento. :)