Vítimas sacrificiais
A crise na educação introduzida pelo actual governo está a ter consequências que roçam o caricato. Os professores, por mão dos movimentos independentes, voltam à rua a uma semana das eleições. Fazem-no porque há razões ponderosas, criadas por este governo. Mas este apelo dos movimentos independentes de professores é uma espécie de apelo partidário ao contrário. É um apelo contra o Partido Socialista, uma intervenção directa na campanha eleitoral. Enquanto professor, teria gostado que as coisas não chegassem aqui. A função docente é estruturante na transmissão do desejo de soberania às jovens gerações, na construção das condições que possibilitem, no futuro, que os portugueses queiram continuar a viver uns com os outros. Por isso, ela está muito acima da luta partidária. É inquietante que os professores, em período eleitoral, tenham necessidade de se manifestar contra um dos partidos centrais da vida democrática. Chega a ser cómico, por outro lado, aquilo que hoje o Expresso revela. Os professores são, de longe, a classe profissional mais citada nos programas eleitorais das principais forças partidárias. Tudo isto manifesta o desconcerto a que se chegou. Seria bom para todos, incluindo os professores, que houvesse menos referências a eles nos jornais, nos programas eleitorais, onde quer que fosse. Seria sinal de que a violenta política de perseguição que os atingiu teria sido ultrapassada, seria sinal de que estariam fundamentalmente preocupados com a sua função. Mas é preciso não esquecer que a guerra não foi começada pelos professores. O conflito foi desencadeado pelo governo, que escolheu os professores como vítimas sacrificiais a imolar pelo desconchavo da sociedade civil e política.
1 comentário:
Muito bem escrito! Já somos dois a pensar assim.
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