30/09/09

John Keats - Lines Supposed to Have Been Addressed to Fanny Brawne

John Keats (1795 - 1821)

Uma tradução de um poema de John Keats, Lines Supposed to Have Been Addressed to Fanny Brawne

This living hand, now warm and capable
Of earnest grasping, would, if it were cold
And in the icy silence of the tomb,
So haunt thy days and chill thy dreaming nights
That thou would[st] wish thine own heart dry of blood
So in my veins red life might stream again,
And thou be conscience-calm’d – see here it is –
I hold it towards you.

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Esta mão viva, agora quente e capaz
De ávida força, desejaria, se fria estivesse
No gélido silêncio do sepulcro,
Assombrar-te os dias e gelar-te o sonho nas noites,
Suplicarias para o sangue secar no teu coração.
Assim em minhas veias a seiva voltaria a fluir,
E amena seria a tua consciência – vê, ei-la aqui –
Prendo-a para ti.

3 comentários:

maria correia disse...

Ah...Keats...totalmente envolto em romantismo, até à morte, depois de se ter afastado da amada de sempre, Fanny Brawne, devido à doença que o atacou. Keats será talvez o mais belo dos poetas românticos ingleses, quer na sua poesia quer na forma física. Morreu cedo, mas morrem sempre cedo os que os deuses amam.
Em relação à tradução, está quase perfeita, mas não concordo com a hipótese de «prendo-a para ti», traduzindo «hold it towards you». O verbo to hold possui uma miríade de interpretações, das quais escolheria «guardo-a para ti» ou, numa hipótese talvez mais livre, «estendo-a para ti» (as mãos estendem-se, mesmo quando assombram) ou ainda «ergo-a para ti.»
Além disso, creio que o desejo do poeta de «so in my veins red life might stream again», implicaria a meu ver a ideia de «para que, nas minhas veias...» mas a tradução teria de ser reformulada quase totalmente na parte final.
De qualque modo, a sua «traição» aproxima-se da verdade.

Aproveito para dizer que gosto bastante de o ler «à esquerda» do monitor e que o blogue tem uma configuração nova cativante! Parabéns pelo gosto!

Jorge Carreira Maia disse...

Maria,

Tenho dois problemas relativamente às minhas traduções. Primeiro, domino bastante mal, não é mal, é bastante mal, o inglês. O segundo é o tempo. Faço as traduções em curtos intervalos. Não sou um tradutor, nem sequer diletante. Mas utilizo estas traduções como exercício de uma língua cujo domínio é o que é, e também de produção poética.

Talvez fosse melhor uma tradução dos três versos finais assim:

Para que, nas minhas veias, o sangue (ou a cor da vida, ou...) voltasse a fluir /
e tranquila fosse a tua consciência - vê, ei-la aqui - /
estendo-a (ou ergo-a, ou..) para ti.

Mas as opções que apresentei devem-se ao seguinte:

1. Para que ou assim? Escolhi o assim porque é apenas a referência a uma modalidade de acontecimento. "Para que" introduz uma certa teleologia, estabelecendo um nexo causal.Quis evitar isso ou pelo menos enfraquecer esse nexo. Vamos lá ver se me consigo explicar. Se usar "Para que as minhas veias etc...", faço dos versos anteriores um antecedente que gera o conseguente no verso seguinte. Ao preferir o "assim" mantenho duas imagens especulares - há nelas uma inversão o sangue que seca e o que flui.

O uso de prender tem como referência a mão viva e ávida de força do início.

Estas sãs as minhas pobres razões.

Agradeço a amabilidade das considerações sobre a estética nova do averomundo.

Mto obrigado,
JCM

maria correia disse...

Entendo as suas razões Jorge Carreira Maia, que são razões de força. Creio que traduz até bastante bem...a poesia é um universo quase impossível de captar em tradução, por vezes.

Não estando ainda perfeito (os poetas românticos são os meus preferidos e por isso lhes dedico bastante tempo) seria assim então que poderia ficar,se...

Esta mão viva, agora quente e capaz
De ávida força, desejaria, se fria estivesse
No gélido silêncio do sepulcro,
Assombrar-te os dias e gelar-te o sonho nas noites
Suplicarias para o sangue secar no teu coração
Para que, nas minhas veias, a rubra vida voltasse a fluir
E tranquila fosse a tua consciência - vê, ei-la aqui -
Estendo-a para ti.

Um dia ainda voltarei a estes versos de Keats.
Continue! Obrigada.