26/01/09

Perdi a fé

Desisto! Muito eu gostava de ter fé. Não estou a falar daquela fé que move montanhas, mas numa outra mais prosaica: a fé nos vaticínios económicos. Agora é o Presidente do Bundesbank (logo do Bundesbank), Alex Weber, que nos diz que a crise financeira internacional é muito mais ampla do que se esperava. Um pobre mortal, educado no temor e na reverência pela ciência económica, sente-se, a cada dia que passa, mais desgostoso e desorientado. Que ciência estaria mais apta, depois da morte de Deus, para dar sentido à vida e prever os fluxos favoráveis do nosso dinheiro, para atrair os bons espíritos da riqueza e afastar os demónios da perda e da desgraça? A Economia, gritará o leitor. Essa deveria ser a ciência exacta que nos guiaria na vida e na selva do mercado. Mas o que se passa é que, se prestarmos atenção, a Economia não é uma ciência, mas uma arte do vaticínio, tão eficaz e profunda como a astrologia, a leitura das mãos, ou a interpretação do voo dos pássaros. Tem, porém, algumas vantagens: contrariamente às outras artes suas irmãs, a Economia pode ir sempre refazendo as suas previsões, ora revendo em baixo isto, ora revendo em alta aquilo. É mais ou menos como se no totobola fosse permitido que alterássemos as apostas até ao fim dos jogos. Mas a vantagem maior é que, apesar desta desilusão constante que os economistas produzem, eles obtêm um efeito extraordinário. Quanto mais se enganam, quanto mais desconhecem e quanto mais revisões fazem, maior é o prestígio de que gozam na esfera pública. É como se, utilizando ainda uma metáfora futebolística, aqueles avançados que falham todos os remates e não marcam um golo que se veja, fossem considerados os melhores e mais bem pagos. Por mim, impediria a Economia de ser ensinada no sistema universitário. Permitia apenas um instituto de artes da adivinhação, onde se ensinaria economia, ao lado da astrologia e da leitura de búzios.

1 comentário:

maria correia disse...

Desses tipos nem quero ouvir falar...dedico-me apenas á economia....doméstica. Se calhar, não seria mau que «eles» passassem a fazer o mesmo.