23/01/09

Juventudes



A juventude é um estádio da vida interessante. O seu interesse resulta da combinação entre a efervescência hormonal, a ignorância descabelada e, por vezes, a estupidez mais acintosa. Imagine uma aula onde o professor está a ensinar Platão ou Descartes, a explorar os textos desses autores, a expor as suas teorias e respectivos argumentos. É certo e sabido que terá de ouvir a um adolescente ou pós-adolescente um comentário onde ele comunica ao mundo que não concorda com nada daquilo. Comunicações destas deixam-me logo de sobrolho franzido e a perguntar ao aluno se alguém lhe tinha pedido a concordância (hoje em dia, retraio-me perante a força das teorias pedagógicas que transformaram a ignorância, a estupidez e a falta de vergonha e de humildade em virtudes muito apreciadas na escola). Mas tudo isto vem a propósito daquilo que o dr. Mário Soares disse, e bem, sobre o chamado casamento homossexual. Ora, como todos sabemos, o dr. Mário Soares, gostemos ou não dele, está para a política nacional como o Platão ou o Descartes estão para a história da filosofia.

Tendo em consideração aquilo que a escola portuguesa vem destilando, não é de admirar que o chefe da Juventude Socialista, certamente uma irrelevância que amanhã terá imenso relevo, se apressasse a dizer que o dr. Mário Soares estava enganado. E esclareceu o povo sobre a vexata quaestio da relação entre a esquerda e o dito casamento entre pessoas do mesmo sexo. Parece que o problema não é apenas da esquerda radical, mas de toda a esquerda. O génio em formação teve mesmo a humildade das pessoas profundas, ao partilhar connosco este notável pensamento: «há uma diferença muito grande em ser radical ou estar à frente». Afinal o problema é mesmo uma questão de posição. Uns estão à frente, outros atrás. Compreende-se. Quando o assunto mete questões de sexo, o atrás e o à frente sempre têm a sua importância. No fundo, é um problema de orientação no espaço e, tanto quanto se sabe, o dr. Mário Soares é formado em Direito e Histórico-Filosóficas e não em Geografia. Se ele fosse geógrafo talvez se desenganasse.

1 comentário:

José Ricardo Costa disse...

Dá para entender perfeitamente por que razão ele afirma que é preciso ter coragem de estar à frente... Enfim, sujeita-se.

JR