09/01/09

A cegueira do poder


Como é do conhecimento público do burgo fui, não desde a primeira hora, um apoiante de António Rodrigues. Continuo a sê-lo, penso mesmo que é um dos mais importantes presidentes da história do município torrejano. Há uma Torres Novas antes de António Rodrigues e há outra depois, sendo esta bastante melhor.

Este intróito é uma espécie de justificação para, por uma vez, falar de um assunto estritamente local. António Rodrigues reconheceu que a construção do bairro social na via panorâmica das Tufeiras foi um erro. Eu diria um erro histórico, talvez o que de pior se fez nos seus mandatos. António Rodrigues diz que essa era a política da altura. Pode ser verdade. Mas também é verdade que houve pessoas que anteciparam aquilo que se iria passar. Lembro-me de falar desse desastre previsível quando se começou a esboçar o projecto. Não sei se cheguei a escrever um artigo no Jornal Torrejano, mas recordo-me de o ter dito informalmente a António Rodrigues e a outros vereadores, nomeadamente a Pedro Ferreira. Outras pessoas o fizeram. Penso que o João Carlos Lopes também o fez, e o José Ricardo Costa escreveu na altura qualquer coisa sobre o assunto, mas não estou certo disso. Isto para além de um editorial do Jornal Torrejano. É evidente que estas opiniões negativas eram meras opiniões, mas os argumentos eram bons e realistas.

O que me interessa aqui, porém, é outra coisa: a cegueira do poder. Há qualquer coisa de misterioso que cega, quem detém o poder, para aquilo que é óbvio. Ninguém na vereação da câmara queria os resultados que o projecto teve, mas todos se precipitaram para eles cantando alegremente, cegos e surdos ao que se dizia. Porquê? O que leva o poder a cometer erros estúpidos? O que leva o poder a ser incapaz de pensar? Este caso é apenas um exemplo, bem pequeno, dessa incapacidade estrutural do poder, qualquer que seja, para escutar o que vem de fora. É como se a necessidade de acção elidisse a capacidade de pensar, e de pensar aquilo que contraria os desígnios de quem ocupa o poder. Há uma atracção fatal do poder pela irracionalidade. Este não é um dos mistérios menores do poder.

A António Rodrigues, neste caso e ao contrário de muitos outros actores políticos de outros casos, reconheça-se a capacidade de reconhecer o erro, em vez de o disfarçar. Talvez se tenha aprendido alguma coisa. Seria bom que se escutasse com atenção os argumentos que contrariam aquilo que o poder pensa ser o melhor. Só por uma questão de precaução.

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